Tuesday, December 30, 2008

"até que ponto não nos é só possível amar o que já perdemos?"

António Lobo Antunes em entrevista a Mário Crespo

Saturday, December 27, 2008

Love will tear us apart



When routine bites hard
And ambitions are low.
And resentment rides high
But emotions won't grow.
And we're changing our ways
Taking different roads.

Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

Why is the bedroom so cold
Turned away on your side?
Is my timing that flawed
Every feeling run so dry?
Yet there's still this appeal
that we've kept through our lives.

And love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

Do you cry out in your sleep,
All my failings expose?
Gets a taste in my mouth
As desperation takes hold.
Why is it something so good
Just can't function no more?

And Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again...

Pequeno bilhete aberto a José Cardoso Pires

Caro senhor:

Li, há uns anitos, um livro seu, de título "O Delfim". Não o compreendi e, consequentemente, não gostei. Liminarmente, dei-lhe um empurrão para o fundo da minha lista de autores, baseada única e exclusivamente nessa má experiência literária.
Hoje, sou obrigada a reconsiderar e a pô-lo no topo. Porque "A balada da praia dos cães" é simplesmente magistral. Devo-lhe um pedido de desculpas: desculpe.

Friday, December 26, 2008

Mondego



E foi esta bola de pelo que me desaguou cá em casa este Natal...

Tuesday, December 23, 2008

Friday, December 19, 2008

Ahhhh!!!! Agora percebo...

Os estudiosos de uma universidade escocesa descobriram que ver comédias românticas pode estragar a vida amorosa. Afinal, a culpa não é minha. É da TVI!!

Tuesday, December 16, 2008

Balada da Despedida


Um dia descobri que estava cansada e disse: vou-me embora. "Ex.mos. Srs, venho por este meio comunicar que pretendo denunciar o meu contrato." E com 5 linhas de palavrório de minuta terminei uma relação laboral que durava há 10 meses.
Não vou ter saudades de arrumar armazéns, dobrar camisetas, aturar clientes mais-que-chatas. Mas ainda só deixei o trabalho há 2 dias e já sinto a falta das pessoas. De algumas pessoas: das que são doces. Das sempre bem dispostas. Das que têm mau feitio que se desfaz à força de piadolas. Das que me dão ordens como se efectivamente mandassem em mim. Das que me ensinam coisas novas todos os dias.
Porque eu cheguei sem mais nada do que a minha inexperiência. E levo os saberes, a confiança e os AMIGOS.

Friday, December 12, 2008

A outra face da lua

Era a noite de 27 de Fevereiro de 2002. A lua estava mais próxima da terra. Aparecia cheia, maior e mais brilhante. Eu tinha 17 anos e pedi um desejo.



Hoje, 12 de Dezembro de 2008, a lua está mais próxima da terra. Aparece cheia, maior e mais brilhante. Eu tenho 24 anos e peço o mesmo desejo. Mas por uma outra face...

Wednesday, December 10, 2008

Vermelho, vermelhante, vermelhão...


O Governo veio agora aconselhar os professores a não fazerem as correcções dos testes com caneta vermelha por ser uma cor demasiado agressiva e potencialmente traumatizante para as mentes infantis.
O Governo está muito atrasado: há 8 anos já a minha professora de Inglês/Alemão defendia a mesma teoria, insistindo em encher-nos os testes de manchas verdes ou roxas. Para não nos traumatizar (ainda mais).
Eu iria mais longe: qualquer correcção é agressiva para o aluno. Dizer a um aluno que se escreve "comeste" e não "comes-te" pode transformá-lo para sempre numa pessoa com baixa auto-estima. Analfabetos, sim, mas mentalmente saudáveis!
Concluímos daqui que as crianças de hoje em dia são uns cócózinhos, incapazes de sobreviver sem sequelas a um teste riscado a vermelho, a um raspanete ou a histórias infantis em que uma princesa come uma maçã envenenada com pesticidas proibidos na UE. Palmadas, então, nem pensar!
No meu tempo não era nada disto. Por isso é que eu sou mentalmente doente. Foram anos e anos de práticas torturantes...

Questionário

O Sapo decidiu lançar a alguns bloggers a pergunta: Qual a melhor canção de amor? Desafio estúpido e piegas. Mas eu respondo, sem hesitar:



É lindo demais!

E vocês, génios (se é que ainda aí andam...)? Qual a canção de amor que vos leva às lágrimas?

Monday, December 8, 2008

Canção de amor para uma pessoa feia

Dia Santo


Alguma vez se perguntaram porque é que hoje é feriado? Eu sabia que o dia 8 de Dezembro é o da Imaculada Conceição, mas isso não me dizia nada. Só que, estando de novo sem Xanax e com uma insónia de terror, decidi reflectir sobre o assunto.
"Imaculada Conceição" foi um dogma decretado pela Igreja Católica, segundo o qual Maria é uma entidade pura e limpa do pecado original. Ou seja, falamos basicamente de uma Imaculada Concepção. Da concepção sem esse pecado-mor que é o do Sexo. A Igreja Católica vê TODO o sexo como algo de mau, sujo, mortalmente pecaminoso. Quando digo TODO, é mesmo todo, incluindo o praticado dentro do casamento. É por isso que se baptizam os bebés: porque estão manchados pelo pecado original, esse pecado que os seus pais cometeram quando "praticaram o coito", nas palavras sábias do meu primo de 8 anos.
O conceito do pecado capital da luxúria na Igreja é tão poderoso e abrangente que condicionou toda a nossa História até hoje e continua a dominar a consciência de muito boa gente.

Por isso me parece tão maravilhosamente irónico que, pelo menos numa coisa, os dogmas da Igreja sejam úteis: amanhã, muitos de nós estarão certamente a aproveitar o tempo livre para um dia porcamente anti-concepcional.

Saturday, December 6, 2008

Retrato de um país



Portugal é feito de gente desta: idealistas, sim. Mas, antes de tudo, práticos. Primeiro a nossa rotinazinha. E depois, se houver tempo... Não sei como terão feito há 500 anos os nossos Descobridores, mas imagino que algum se tenha aborrecido, depois do almoço, enquanto palitava os dentes com um pau de giesta, e se tenha lembrado de se meter num barco para ver onde é que aquilo ía dar.

Nota: Considero-me incluída. Não sou diferente da maioria do povo.

Friday, December 5, 2008

Tuesday, December 2, 2008

livros


(Cartier Bresson)


"Há os livros que antes de lidos já estão lidos. Há os que se lêem todos e ficam logo lidos todos. E há os que nos regateiam a leitura e a que pedimos humildemente que se deixam ler todos e não deixam e vão largando uma parte de si pelas gerações e jamais se deixam de ler de uma vez para sempre."

Vergílio Ferreira, Escrever

Saturday, November 29, 2008

Agricultura

Um dia não quererei mais a cidade. Nesse dia vou abandonar o medo. Nesse dia vou esquecer como se escreve. Nesse dia não me sentirei sozinha. Nesse dia ponho o chapéu que foi da minha avó, esse que é de palha e tem uma fita, e sairei para o pátio e plantarei uma roseira num velho tacho de esmalte. E os meus olhos serão azuis, como as laranjas à janela da cozinha, como o milho a crescer no lameiro, como as uvas pendentes da latada, como o cão que dorme à sombra e a lenha empilhada sob o telheiro.

Wednesday, November 26, 2008

Por vezes a vertigem...

(Brassaï)

... merecia a segurança do beijo.

Tuesday, November 25, 2008

We never drink alone


Sabiam que beber água pode ser um acto solidário? Já está à venda em Portugal a Earth Water: quando compramos uma garrafa de um litro desta água mineral premium (0,59€), estamos a possibilitar que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados forneça água potável a uma pessoa refugiada, durante um dia. Assim, nunca bebemos sozinhos!

Sunday, November 23, 2008

Esfrangalhada


Tenho uma amiga que costuma dizer que sair à noite é um bálsamo para o ego. Não posso concordar. Venho sempre da noite com o ego em frangalhos...

Saturday, November 22, 2008

You oughta know

Eu tinha 11 anos, mas já sabia obscuramente que um dia esta canção faria sentido...


A Alanis só foi uma artista na fase do "Jagged little pill": quando era feiosa, revoltada, feminista. Depois tornou-se feliz e grata a todo o mundo e perdeu-se...

Tuesday, November 18, 2008

Homeless


Ainda sou uma estranha na minha própria casa. Não costumo gostar de mudanças, mas mudar de casa tem sido uma experiência especialmente terrível. Depois de 24 anos a viver "provisoriamente" numa casa velha, húmida, gelada no inverno e um forno no verão, que era, inexplicavelmente, o refúgio preferido das aranhas, centopeias e outras bichezas, mudo-me para aquele casarão novinho em folha, construído de raiz, com todo o conforto e as maravilhas do chão radiante e sinto-me desalmada. Entro no quarto e sinto-lhe o cheiro estranho a madeiras e a tinta. Até o simples riscar de uma caneta num papel escorre na nudez das paredes e a minha respiração faz um eco assustador. Ainda não tenho cama, mas isso são pormenores. O pior é não ter uma estante, nem uma secretária com uma cadeira para trabalhar, e ter ainda os meus livros e fotografias e tralhas inúteis em caixotes. Estar naquela casa é um pouco como acampar num lugar estranho. Ainda não posso chamar-lhe "minha".

Friday, November 7, 2008

Ups...

"O advogado que (...) se embriague publicamente não tem um comportamento adequado à dignidade e responsabilidade inerentes à profissão."

António Arnaut, EOA Anotado

Hmmm... a partir de agora só me embriagarei em casa e sem testemunhas. E você, José, embriague-se enquanto pode...

Thursday, November 6, 2008

Wednesday, November 5, 2008

Tuesday, November 4, 2008

02:58

"Se queres que uma dor deixe de te doer, arranja uma outra que te doa mais."

(Vergílio Ferreira, Escrever)

E o amor também.

Friday, October 31, 2008

Às vezes parece que ninguém me entende...



Eu sei, não devia gozar com senhoras-velhinhas-sem-abrigo. Mas ainda não estamos no Natal. :D

Thursday, October 30, 2008

Wednesday, October 29, 2008

Surpresas

Ainda estou meia aparvalhada. Ainda não acredito. Ainda estou a ver mal. Será possível? Será verdade? Quem diria que a melhor escola do país é o "Colégio S. João de Brito", em Lisboa, e a pior a EB 2,3 do Bairro do Cerco, no Porto? Este mundo está virado do avesso...

Sunday, October 26, 2008

Sem título

Ex.mo Sr. Vizinho do 1º andar:

Venho por este meio expressar o meu repúdio pelas sessões diárias de música em altos berros, a sair livremente pela porta escancarada da sua varanda. Eu sei que não tem mais nada que fazer. Desconheço se terá um grave problema de audição ou se é, simplesmente, imbecil. Mas agradecia que se abstivesse de tal comportamento, de hoje em diante, sendo certo que poderá continuar a disfrutar da sua musiquinha dentro dos decibéis admissíveis pela lei e pelo bom senso.
Sem outro assunto,

Agradeço desde já a atenção dispensada

ou antes:

Anormal do c**** do 1º andar: Pena não viveres uns 8 andares acima. Podia ser que caísses e desses com os c*** no alcatrão. Desliga a p*** da música antes que a tua caixa de correio comece a aparecer cheia de m****. Ninguém é obrigado a levar com a barulheira a tarde toda, portanto,

Vai-te f****

Friday, October 24, 2008

While it's HOOOOOOT!!

Alguém me explica como é que posso estar a trabalhar concentrada quando a banda sonora é esta e me obriga a recordar o respectivo clip???



Damn...

Que lata!

Votos de uma excelente Latada! E agora vou sair para comprar Hepadox. See you around!

Monday, October 20, 2008

Olívia Palito


No mundo dos adultos, ninguém se sente à vontade para dizer na cara de outra pessoa que ela é gorda/balofa/quadrada/obesa, contentando-se com alguns eufemismos mais ou menos correctos. Mas ninguém parece inibir-se de dizer a alguém magro que está esquelético/escanzelado/anoréctico ou que de frente parece estar de lado e de lado não existe, e mandar piadolas sobre a folha de alface ou a ervilha que o magro ingeriu na última semana. Alguns, como penso já ter referido, mostram-se até preocupados com o aspecto "doente" do magro, aconselham-no paternalmente a comer mais, a tomar vitaminas, fazer análises e ir à bruxa.
Ao fim de alguns meses a ouvir isto quase diariamente, uma pessoa cansa-se. E começa a olhar-se ao espelho e a perguntar-se se pareceria saído de Aushwitz caso rapasse o cabelo. Não é agradável ser-se demasiado magro. Mas, por muito que vos custe acreditar, não se trata de uma opção. O magro é magro porque é. É, provavelmente, mais difícil para um magro engordar do que para um gordo emagrecer. Não importa a quantidade de alimentos que consiga ingerir. Fala-vos alguém que, nos últimos meses, já comeu quantidades astronómicas de tudo o que há de mais calórico, inverteu todos os artigos de revistas com dicas para emagrecer, ingeriu quilos de frutos secos, tomou suplementos, geleia real e outras coisas intragáveis e não engordou 0,5 g. Não, amigos gordos, não tenho nenhum conselho para vos dar.

Saturday, October 18, 2008

Miles e Juliette



















Diz-se que Sartre terá perguntado a Miles Davis:
"Miles, estás apaixonado por (Juliette) Gréco?"
"Sim..."
"Então porque não te casas com ela?"
"Sou negro. Sou americano. Ela é branca. Não quero torná-la infeliz."

Friday, October 17, 2008

Fantasma

Nunca sentiste que não tens corpo? Que és invisível, inaudível, intangível? Passas e os outros não sentem mais que uma ligeira deslocação do ar nos cabelos... O teu colchão não acusa a presença do teu peso, e no entanto tu sabes que pesas toneladas de chumbo negro e dorido.
Como quem já morreu e ainda ninguém lhe disse.

Friday, October 3, 2008

Final feliz

Era uma vez um menino chamado Mário, que tinha a pele branca, a cabeça rapada e uma barba parecida com a do Edward Norton no "América Proibida". O Mário era um menino muito infeliz, porque vivia num país onde não só podiam viver e trabalhar os meninos de pele branca como a dele, mas também os de pele negra, amarela, vermelha e assim-assim. O Mário não gostava nada de meninos que fossem diferentes dele, por isso decidiu ser racista. Juntou-se a mais meninos infelizes como ele, compraram umas armas, organizaram uns concertos, escreveram coisas racistas na net e bateram nos meninos de cores diferentes.

Um dia, um jornalista decidiu fazer uma reportagem sobre o Mário e os seus amigos. O Mário apareceu cheio de tatuagens foleiras e mostrou orgulhosamente as suas armas na televisão. Então, a polícia do país onde vivia foi buscá-lo a sua casa, e uma menina muito inteligente chamada Cândida contou ao sr. juiz que o Mário e os seus amigos se andavam a portar muito mal.
O Mário não gostou nada da ideia, barafustou, choramingou, mas lá foi sentar-se num banquinho, à frente do sr. juiz, explicar que não era racista, mas sim nacionalista, que era vítima de uma perseguição política e, ainda por cima, crente em Deus.

Mas o sr. juiz não se deixou comover e, como castigo, mandou o Mário ficar numa prisão cheia de muitos meninos, todos diferentes, durante 4 anos.

Moral da estória: a justiça existe.

Thursday, October 2, 2008

Tuesday, September 30, 2008

Selva e cascata


"Também a cama é selva e cascata, é a recordação de algo primordial e não condicionado, cujo conteúdo e sentido são a própria vida. Se transformamos isso num jardim à inglesa, sem ervas daninhas, fica no seu lugar qualquer coisa de muito belo, ordenado e atraente, com flores deliciosamente perfumadas, combinando-se árvores e arbustos ornamentais, fontes múrmuras em brilhos de cores, mas é o fim da selva e da cascata por que desde sempre ansiávamos."

Sándor Márai, A mulher certa

Friday, September 26, 2008

Wednesday, September 24, 2008

Pergunta


Como seria o mundo hoje se o primeiro livro a ser impresso tivesse sido o Kama Sutra, em vez da Bíblia?

Monday, September 22, 2008

A mulher certa


Demasiado maravilhada com este livro de Sándor Márai para escrever seja o que for. Até para a semana.

Friday, September 19, 2008

Não sai barato...

Surpresa na caixa do correio: à mistura com a conta da luz, a "Dica da Semana", os folhetos das viagens promocionais e o catálogo da IKEA, um panfleto capaz de ser útil: bom para colar no frigorífico ao lado dos da telepizza. Anuncia um "serviço funerário com dignidade, ética, humanismo e qualidade". Fantástico_pensei eu. Sempre achei fascinante o negócio da morte. Mas nunca imaginei que viesse a tê-lo publicitado desta forma, com direito a número nacional grátis e informação sobre o pack completo de serviço funerário. Para o caso de acontecer alguma coisa. Pela módica quantia de €995, a empresa oferece:

1."organização técnica"
2."viaturas confortáveis" (é importante!)
3."pessoal profissional e uniformizado" (não me lembro de ter visto um coveiro de uniforme, a não ser o macacão da Câmara Municipal...)
4."urna ecológica estofada" (finalmente, uma urna biodegradável como nós!)
5."lençol e lenço"(a minha avó chamava-lhe mortalha. Mas hoje daria azo a confusões...)
6."livro de condolências" (Eu vou querer dedicatórias giras no meu)
7."pagelas" (não podem ser antes postais com gatinhos fofos?)
8."água e café no velório" ( eu acrescentaria algumas bebidas espirituosas. e xanax. e lenços de papel)

Aprendi que, para poder morrer, ainda tenho que trabalhar o suficiente para a "Conta Poupança Funeral".

Wednesday, September 17, 2008

O maquinista



Um filme surpeendente. Onde Dostoiévski se encontra com Kafka.

Nota: não recomendado a pessoas com tendência para a insónia.

suspensão (provisória?)

Meses e semanas e dias e horas e minutos e segundos de nada. os ponteiros que giram sobre o seu eixo sem saírem do lugar.um pêndulo oscila numa casa suspensa.nada acontece. nada me dói, a não ser o nada. estou em março e de repente é agosto e de repente é natal e de repente é março e eu sempre presa a esse março. Ou foi abril? Ou foi maio?não sei já, nem interessa. Hoje os bandos de pombos não cortam em aresta o vidro de nuvens da mesa do escritório.guardaram o voo, enrolados no eriçado das penas debaixo dos beirais. alguns são ratos em passinhos ridículos à procura de lixo.
Metodicamente corro na vida como um autómato. acordo sem ter dormido, como sem ter fome, só porque tenho que, trabalho sem vontade e sem objectivo. volto à minha casa sem ninguém e recomeço. não. repito…

Friday, September 12, 2008

êxtase súbito


IV

Se tudo fosse só êxtase súbito,
o papel intocável e intacto,
como o meu espaço e tu entrando devagar,
as portas que te abri
abrindo para a luz

Se tudo fosse só papel de prendas,
laços e colorido,
a festa do meu espaço
_ e de ti no meu espaço_
as coisas consonantes


Ana Luísa Amaral, Entre dois rios e outras noites
Foto de Pascal Renoux

O esquecimento inventa-se?

"A gente habitua-se, evidentemente, e esquece-se. Esquecemo-nos tanto. De tudo. O homem é como certos bichos: o que segrega transforma-se em pedra. Vive entre pedras, faz pedras de tudo. fé aviva-se, absolutamente. Mas conquistá-la como? Um filho pode tratar os pais com menos respeito. É da sua condição animal _ esquece-se. Mas não diz "vou amar os meus pais", não diz "vou inventar o amor". O amor não se inventa. O amor existe ou não existe, e é só. Posso conquistar uma ciência, um saber que ainda não tenho. Mas não se conquista uma afeição. Oh, pois, conquista-se uma mulher. Mas não o nosso amor por ela."

Vergílio Ferreira, Alegria breve

Thursday, September 11, 2008

(There is) No greater love



Já estavam com saudades?

Wednesday, September 10, 2008

Oração da noite


Now I lay me down to sleep,
I pray the Lord, while counting sheep:
If there's a soul left to take,
please, let me die before I wake...

Tuesday, September 9, 2008

O fim


"Todos os caminhos são bons, desde que sejam caminhos. O erro existe quando são um fim. Só há então um recurso, que é voltar ao princípio ou morrer."

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

Wednesday, September 3, 2008

Hoje não acordei

Há dias de pesadelos piores que os das noites em que não se dorme.

(Foto de Jan Saudek)

Depression

Tuesday, September 2, 2008

Amor cego

"_ A vida é estúpida, Ema, não tem "porquê". Os actos essenciais da vida realizamo-los com os olhos fechados: o prazer da boa música, ou da boa mesa, ou o prazer amoroso, ou a união com Deus. Até mesmo, se quiser, o próprio descomer. Tudo o que é essencial é cego. Fechamos sempre os olhos.É por isso que no-los fecham quando morremos, se os deixamos abertos."

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

Lovers, Magritte

Monday, September 1, 2008

Ao último post do DIAPORESE


(Foto de Michal Macku)

Saturday, August 30, 2008

Wednesday, August 27, 2008

A dolorosa morte das pequenas coisas

Estragou-se o meu telemóvel. A bateria está à beira da explosão. Provavelmente à força das conversas de 5h, com o aparelho ligado à corrente (mais uma consequência negativa por eu falar demais). Não resistiu. Em vão procurei uma bateria nova. Nem nas melhores lojas dos chineses se encontram, quanto mais nas lojas oficiais…

Vou ter que comprar um novo. Eu, que detesto mudanças. Eu, que quando me habituo a uma coisa não quero largá-la, por mais gasta e obsoleta e completamente ultrapassada. Este telemóvel é como aquelas calças que eu amava e que tinha que apertar deitada na cama. E que morreram no dia em que as queimei com o ferro de passar. Chorei. Provavelmente irei chorar quando tiver que me desfazer do meu querido Sharp 770SH. Não tanto pelo telemóvel em si, mas por tudo o que lá está guardado e vou perder. Mensagens com 2 anos que nunca tive coragem de apagar, fotografias, vídeos, contactos. Memórias cristalizadas digitalmente que agora, mesmo não querendo, vão mesmo para o fundo de uma gaveta.

Tuesday, August 26, 2008

Museu Botas



Diz que o sr. Presidente do Conselho vai mesmo ter um museu dedicado à sua memória na sua terra natal. A promessa é do presidente da autarquia de Santa Comba Dão. O futuro "Museu Salazar" contará com a exposição de algumas relíquias, como o estojo de barbear do sotôr, a colecção de crucifixos do sotôr e até (imagine-se!) a mala de viagem nunca utilizada pelo sotôr, que achava que o mundo acabava em Espanha. Eu, pessoalmente, gostaria de ver em exposição a cadeira de lona de onde o sotôr caíu.
Diz também que, além de museu, vai haver uma casa de chá. Provavelmente destinada a tertúlias do PNR com a participação de Mário Machado.
Diz que vai custar 5 milhões de euros. O Sr. Professor deve estar às voltas na tumba, perante semelhante desperdício de dinheiro. Aproveitassem a casa para montar um galinheiro e vender os ovos. Isso sim, era boa ideia, na esteira do que fez o sotôr, em vida.
Por mim, se calhar em caminho, lá passarei um dia, para lhe deixar na campa um belo ramo de cravos vermelhos.

Sunday, August 24, 2008

...

"Toda a liberdade só tem sentido contra uma coisa que se nos opõe. Mas o que nem sempre se pensa é que só tem sentido ser-se contra se o formos em nome de. Ser livre em relação a tudo equivale a sê-lo em relação a nada, porque nada isso pode justificar.Ser livre em relação a tudo é ter uma liberdade inútil, porque inteiramente disponível. Ser livre em relação a tudo é igual a ser determinado, porque num caso e noutro não há escolha nenhuma."

Vergílio Ferreira, Pensar


(Matisse retratado por Henri Cartier-Bresson)

Tema de reflexão semanal

STOP!

Friday, August 22, 2008

Zeitgeist

Se vos apetecer viver 2 horas de lucidez...

http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024

Thursday, August 21, 2008

Coloreria Italiana II

Sim, homens, vocês também podem usar "Coloreria Italiana" na vossa máquina de lavar...


HIHI!!

Wednesday, August 20, 2008

Coloreria Italiana

Era isto!! Era precisamente isto que eu queria!! Hahahaha!!!

Habemus Presidentem


Toda a Igreja Católica Apostólica Romana ergue cânticos de júbilo! O Sr. Presidente da República vetou a pecaminosa nova lei do divórcio, aprovada pela cambada de anti-cristos da nossa AR. Sou sincera: ainda não analisei ao pormenor a nova lei do divórcio. Mas, se a Igreja aplaude o veto, a lei só pode ser boa. Com certeza, ajudará muito boa gente a corrigir um erro do seu passado: casar.

E já agora, um recadinho para o Vaticano: Sr. Papa, seria bom que a Igreja revisse a sua posição quanto ao divórcio. É que, quando os homossexuais do nosso país puderem casar, os fiéis não saberão se são a favor ou contra o divórcio deles... Apesar de o casamento civil ser um assunto em que as religiões não têm nada que vir meter o bedelho.

Recadinho também para a AR: agora que a lei vos foi devolvida, façam o trabalho como deve ser e revejam as questões patrimoniais que se levantam. É capaz de não ser justo que o cônjuge que passou a vida a dar porrada no outro peça o divórcio e saia em vantagem porque era o único que trabalhava... Se calhar não é má ideia ter o regime de separação de bens como supletivo.

Tuesday, August 19, 2008

McLicious


Boa noite, é um Big Black para levar, faxavor!

Thursday, August 14, 2008

Aguarela


"Lisboa é uma cidade submersa, senhor, a água fecha-se sobre as nossas cabeças, as nuvens não passam de bancos de limos que flutuam, os manequins dos alfaiates são sereias sem cabeça, fardadas de terilene ou cheviote e sublinhadas a giz no lugar das entretelas. E acima disto tudo, meu caro, intacta, límpida, pura, a uma distância difícil de conceber e de medir, acima do coral dos telhados, das grutas de caranguejos das ruas e dos paquetes dos mosteiros, do mistério de algas das árvores e da profundidade de congro das caves das viúvas, com a tristeza amortalhada nas flores de cera dos noivados defuntos, acima disto tudo, amigo escritor, (...) serpenteando sem lhes tocar, em redor das antenas de televisão e das chaminés das fábricas, das ruínas do Castelo e dos bairros habitados por canários, contínuos e majores, a Via Láctea que foge de nós para se fundir com a terra para as bandas de Alverca, onde o rio se transforma em labaredas de siderurgia e fábricas de cimento."

António Lobo Antunes, A ordem natural das coisas

Wednesday, August 13, 2008

Aniversário


Nasci há 24 anos. Nesse ano, Carlos Lopes ganhou o ouro nos Olímpicos de Los Angeles, Gomes Canotilho editou "Tópicos de Ciência Política", Foucault morreu, o país alarmava-se com as FP25, nascia o IVA. Ouvia-se o "When doves cry", do Prince e "Against all odds" do Phill Collins. Desde essa segunda-feira passaram exactamente 8766 dias; 1252 semanas; 288 meses. É impressionante como isto não significa rigorosamente nada.

Tuesday, August 12, 2008



On bended knee is no way to be free
lifting up an empty cup I ask silently
that all my destinations will accept the one that's me
so I can breath

Circles they grow and they swallow people whole
half their lives they say goodnight to wive's they'll never know
got a mind full of questions and a teacher in my soul
so it goes...

Don't come closer or I'll have to go
Holding me like gravity are places that pull
If ever there was someone to keep me at home
It would be you...

Everyone I come across in cages they bought
they think of me and my wandering
but I'm never what they thought
got my indignation but I'm pure in all my thoughts
I'm alive...

Wind in my hair, I feel part of everywhere
underneath my being is a road that disappeared
late at night I hear the trees
they're singing with the dead
overhead...

Leave it to me as I find a way to be
consider me a satelite for ever orbiting
I knew all the rules but the rules did not know me
guaranteed...
(Antigos trabalhadores da Fábrica do Mindelo recebem, no Tribunal do Comércio de Gaia, parte da indemnização que lhes era devida)



Uma foto que me fez recordar aquela famosa cena de "Philadelphia", em que "Miller" pergunta a "Andrew":

"_What do you love about the law, Andrew?"

E ele responde:

"_It's that every now and again - not often, but occasionally - you get to be a part of justice being done. That really is quite a thrill when that happens."

Monday, August 11, 2008

Querido mês de Agosto

Vício

"O povo diz "o comer e o ralhar vai do começar". Mas tudo vai do começar. O amor, o ódio, o choro, a ternura, o medo. E quando caímos nisso, o que nos sustenta não é o objecto do sentimento, mas o próprio sentimento. Porque o objecto é um pretexto, e o sentimento é o prazer de nós próprios, que não somos pretextos _ será assim?"

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

Sunday, August 10, 2008

Palhaços sem fronteiras


Um membro da ONG "Clowns without borders" com crianças de Port-au-Prince, Haiti. (Foto de Eduardo Munoz)

Thursday, August 7, 2008

Grandes razões para ver os Olímpicos

Injustiças

Ouvi dizer que o nosso prezado governo deseja aumentar as portagens para quem viaje sozinho. Ou seja, para além do horror que é conduzir sem ninguém no banco do lado a quem dar a mão por cima da alavanca das mudanças, ou com quem conversar, ou que cante connosco ao som do auto-rádio, os solitários ainda serão obrigados a pagar mais. Os solitários já pagam mais aos carochos que os "ajudam" a arrumar o carro em troca da moedinha-para-comer-qualquer-coisinha-chefe! porque não têm ninguém que simpaticamente saque dos trocos por ter vindo à boleia. Não havia necessidade de lhes aumentar as portagens só porque ninguém quer entrar num carro com eles porque são perigos a conduzir/ são chatos/ cantam mal durante toda a viagem/ rezam o terço em voz alta (refª minha avó).
É triste. E revoltante. Solitários deste país, uni-vos! Se possível, dentro do mesmo automóvel...


Nota: This is the only picture of Paris Hilton you will ever see in this blog, and that's because she is crying hard. Thanks for understanding.

Tuesday, August 5, 2008

Trouble



Às vezes fico com saudades de músicas assim.

Sunday, August 3, 2008

Cartas a uma ditadura


A RTP2 decidiu presentear-nos e celebrar o aniversário da queda do Sr Presidente do Conselho com a exibição do documentário "Cartas a uma ditadura", de Inês de Medeiros. A realizadora conversa com mulheres que, em 1958, responderam a uma circular tendente a criar um movimento feminino de apoio à Pátria e ao Regime. Todas manifestavam, à época, a gratidão e admiração pelo ditador. Hoje, confrontadas com os fantasmas do passado e com o que escreveram, algumas dizem apenas que "não se lembram". Ou que não querem lembrar. Ou que não tinham consciência do que escreviam, porque não sabiam nada de política.
As excelentíssimas senhoras, actualmente acomodando as rugas nas poltronas das casas que herdaram do pai, na linha de Sintra, com as "mulheres a dias" a atravessar silenciosamente os espelhos, dão um testemunho do que era a vida das privilegiadas da época: eram mulheres ideais. Esposas, mães, mulheres de caridade e boas cristãs. Podiam ficar em casa e não trabalhavam: o dinheiro que o chefe de família ganhava num bom lugar de um qualquer ministério ou a explorar uma fábrica cheia "desses que se revoltavam" chegava bem para as madames poderem, nos intervalos do governo do lar e da educação do filhos, tantas vezes entregues às criadas, dedicar-se ao serviço do país: uma vez por mês vestiam-se de forma simples e desciam à Curraleira, levar aos pobrezinhos o pão da caridade, com a mensagem cristã e salazarista dentro. De vez em quando, um extra: metiam-se no seu carro com chauffer para irem a uma aldeia escondida, convencer a mulher que fugira à violência de um marido alcoólico, a ser uma esposa como deve ser e voltar para casa. E, antes da teatrada das eleições presidenciais, as dignas senhoras serviam-se dos seus conhecimentos para recensear apenas votantes "de confiança" e cortar das listas as ameaças à sua estabilidade e das suas famílias.
Algumas admitem-no, outras não. E tudo isto por sobre as imagens das verdadeiras mulheres portuguesas: as camponesas, as operárias, as criadas de servir, que trabalhavam dia e noite para alimentar os filhos. Essas sim podem dizer sem mentir: eu não sabia o que era a política. Eu não me lembro de escrever essa carta (como poderia, se nunca entrei numa escola?). Eu não tinha outra preocupação que não fosse a de pôr pão na boca dos meus filhos. Tudo o que queria era que não viessem a ter uma vida miserável como a minha.
As mães precocemente envelhecidas pelo sol das searas e das vinhas e das noites sem sono, a pensar nos filhos, tão longe, no "ultramar", a defender o que nunca seria deles. Desses rostos não chegaremos nunca a ouvir nada, senão as lágrimas engolidas a preto e branco.

Que cartas escreveriam elas, se soubessem?

A queda


"Salazar caiu há 40 anos

Nenhuma outra queda de um governante teve tanta importância na História de Portugal quanto a de Oliveira Salazar: o então presidente do Conselho caiu quando se sentava numa cadeira de lona – faz hoje, dia 3 de Agosto, 40 anos – num terraço do forte de Santo António. Salazar bate com a cabeça no chão de laje. Teima em não consultar de imediato o médico pessoal, Eduardo Coelho, que só é chamado um mês depois. O chefe do Governo arrasta a perna esquerda e queixa-se de falta de memória. Aceita submeter-se a exames, à noite, em segredo, no Hospital dos Capuchos. Os médicos descobrem um hematoma intracraniano. É internado no quarto 68 do Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, e operado a 7 de Setembro pelos neurocirurgiões Álvaro de Athayde e Vasconcelos Marques.

Nove dias depois sofre uma trombose – que o deixa incapacitado. É demitido e substituído por Marcelo Caetano. Morre a 27 de Julho de 1970, convencido de que ainda estava à frente do Governo."

in Correio da Manhã online

Ora, quem manda o senhor professor ser unhas de fome e ter no terraço uma cadeirita de lona comprada na loja dos chineses, em vez de uma daquelas espreguiçadeiras jeitosas, em madeira, e com almofada às riscas azuis e verdes?
É no que dá a mania da poupança...


Viagem


Mudei. É nisso que penso, nesta viagem de regresso de um lugar onde já fui tão feliz e que é uma memória de riso ternura família amizade aconchego amor. Um cesto cheio de recordações redondas e brilhantes como maçãs. E no meio o sabor acre e a mancha bolorenta de um fruto vermelho, a contaminar todas as outras, no silêncio, como uma ferida aberta.
O mar de Espinho e as suas ruas tiradas a esquadro, vão ficando para trás, batidas de vento. Não quero lembrar nada. O passado é uma figura rupestre feita com os dedos e o sangue e que representa uma felicidade extinta. Vou sentada no comboio, avanço de costas, sempre a olhar para trás: as árvores, as casas, os campos, as fábricas a fugirem para longe. Não chega a hora de viajar no sentido correcto, com a vida a entrar-me pelos olhos adentro...

Friday, August 1, 2008

Para quem ainda tinha dúvidas...




Have a nice weekend. I will.

Wednesday, July 30, 2008

Cinema de Verão

Toda a gente sabe que o Verão é a época do ano em que o cinema bate no fundo. As salas exibem filmes de grandes orçamentos mas que não sabem a nada. Comédias ridículas, batidas como prostitutas velhas; enredos de acção estupidificantes, e grandes produções cheias de efeitos especiais enjoativos. Para quem não tem férias, nem dinheiro para escapadinhas de fim de semana, sentar-se na frescura do sofá da sala num sábado à tarde, é ser obrigado a levar com mais do mesmo: é sempre o Steven Seagal a partir pescoços com os olhos meio fechados e animaizinhos que falam ou são muito inteligentes e salvam criancinhas, ou filmes para teenagers em que existe sempre o campeão de football, a cheerleader e o grupo dos freaks. Pior que isso, só os épicos.

É por isso que, no Verão, revejo sempre os filmes que me marcaram, nem que para isso tenha que andar a farejar no caixote das VHS até encontrar o "Filadélfia", em péssimo estado de conservação.
Este Sábado vou rever este:


"Amores Perros" (Amor Cão)
De Alejandro González Iñarritu
2000

Saturday, July 26, 2008

Cravos mortos

Há certas coisas que, lidas a frio e sem aviso, provocam golfadas de vómito. Senão vejam:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1336632&idCanal=62

E poupem-se à leitura dos comentários. Arriscam-se a ficar com o pâncreas deslocado e as unhas dos pés a crescer para dentro, como eu.

Friday, July 25, 2008

Island Blues



Hoje sinto-me assim. Um sangue grosso de lama que não encontra veias por onde escoar. O coração quase parado no esforço de uma subida. Mastigo a chuva fina que cai lá fora e que nem chuva é. O cérebro vazio de ideias, a ecoar passados acontecidos e inventados como as espirais de um búzio. Sou a pessoa mais triste à face da terra. E a mais só. E a pior. Não há relativização possível.
Se ao menos tivesse a coragem de diluir o sangue em álcool, vomitar a chuva que me enche o estômago, chorar até adormecer. Em vez de calar tudo num punho fechado de nervos e na dor dos maxilares que se apertam na febre intermitente do sono.

Tuesday, July 22, 2008

Take the box


Olho para as fotografias e não te reconheço. É como se nunca tivesses existido. Como não existiu o teu carro à porta do meu prédio, não existiu aquela praia escondida na serra, não existiram as manhãs de lençóis revoltos, nem as tuas mãos, nem intermináveis conversas ao telefone, noite dentro, nem os teus cabelos, nem a minha pele. Olho para as fotografias e sinto que podia rasgá-las sem um estremecimento. São papéis lustrosos, de sorrisos. Vazios.
Lembro tudo como se tivesse sido um sonho. Junto as fotografias à caixa onde estão as cartas que também não existiram. E os fantasmas de tudo o que me deste. Cheguei a querer entregar-ta. Cheguei a querer ver tudo espalhado na tua rua, o sangue de um espetáculo de morbidez, os vizinhos à janela. Talvez para tentar re-presentar tudo. Já não preciso. Os fantasmas já não me assustam. Como nunca te assustaram a ti. Não existo.

Friday, July 18, 2008

...

Há um mês que não conseguia chorar, embora me sentisse como se. Então li isto:



Mar Morto


O dia nasceu como um mar morto.

Sem que o barro cantasse. Sem perfume.

Sem que a luz fizesse piruetas de alegria.



Estou dentro de uma hora há mais de um mês,

Num lúcido verdete adormecido.

Quero olhar pela janela e não consigo.

só ouço o som do tempo contra a margem.




Isabel Cristina Pires



E o dique, finalmente, cedeu.

Wednesday, July 16, 2008

Fast Forward

Na maior parte dos dias, apetecia-me fazer um "rewind" na minha vida. Mas penso que também seria interessante ter um botãozinho de "fast forward" só para espreitar breves minutos de como e onde estaremos daqui a 10 ou 20 anos. Um pouco como quando estamos a ler um livro ligeiramente desinteressante e lemos a última página para ver se valerá ou não a pena continuar. Sempre me imaginei a morrer podre de velha e completamente senil, sozinha num apartamento, e que os vizinhos só dariam conta quando notassem um vago cheiro a cadáver no 2º andar e os sacos do pão acumulados na porta. Agora sou menos pessimista. Imagino-me mais ou menos assim:



Eu sou, obviamente, a aventesma desfalecida no sofá. O filho não é um dos miúdos do spot publicitário do Ponto Verde, mas é o que se arranja. E esta conversa toda foi só o pretexto para vos deixar este vídeo da MadTV antes do exame de Penal.

Liberdade

"Se eu opto por aquilo que me contraria, se opto por aquilo que se opõe à minha real vontade, se sou honesto contra aquilo que em mim me impele para a desonestidade, como entender que esse escolher "contra" não é de facto um escolher "segundo" aquilo que sou?"

Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo

Actualizações

Depois de uma ausência forçada durante alguns dias (o computador recusava-se terminantemente a iniciar programas que exigissem ligação à Internet, coisa que resolvi desligando uma coisa que se chama Firewall e que não sei para que serve*), voltei! Não devia. Devia estar a aproveitar a insónia para estudar para o exame de amanhã. Mas eis que valores mais altos se alevantam!!

1º: Agradecer à querida Med o prémio atribuído. Quem me conhece bem sabe o medo que tenho dos gatos. O que explica muitas coisas...

2º: Publicar oficialmente o resultado da sondagem "Porque é que os homens preferem as louras?". Dos 10 génios que têm uma opinião sobre o assunto, 2 são mulheres inteligentes. E 8 são homens que se assumem como primários e de instintos animalescos básicos. Concluo, portanto, que esta sondagem não revelou nada de novo, pelo que está à altura das realizadas pela Católica para a RTP e a SIC/Expresso. :)

3º: Anunciar o final dos exames da OA e o regresso ao Office.

4º: Anunciar que o José Cid estará um deste dias nesse grande evento chamado Fiagris naquela que é a cidade que me viu nascer. E eu não estarei lá!


*Obrigada pela dica, mano génio informático. Um dia destes explicas-me para que serve essa coisa de firewall...

Wednesday, July 9, 2008

Mulher


FEMININO, SINGULAR

Sou composta por cubos e por esferas
donde brotam meigos decaedros
sou composta por trapos, manchas de tinta sem plano
e dedos rupestres a castanho,
o ocre na vizinhança do rosado, o pó de lápis-lazúli
na clara de ovo, o vermelhão nos seios,
sou composta de diálogos frouxos, de troncos
de árvores em pleno verão,
das ternuras de um gato preto e branco, de insectos
de níquel a voar brilhando, sou composta
de pêlos que caem no outono e águas duras.
Sou composta por mãos que doem nos braços e
por regaços com olhos sempre à superfície,
sou composta de estrelas na tapeçaria do palácio, de gritos
na rua – quem me chama? –,
de nuvens de hélio e náiades em gaiolas, facilitam
a visão, as trocas, o comércio com os homens,
sou composta pela morte que de vez em quando acorda,
por isso desconfio, sou composta pelo desejo que grita
de tal modo que não se ouve ao perto,
sou composta pela água que oscila com as marés, pelo
vapor da submissão, pelo destino obstinado.
Ou eu não fosse uma mulher.

Isabel Cristina Pires in Cobra de Papel

Tuesday, July 8, 2008

Lowered expectations

Há uns meses, recebi uma mensagem no telemóvel a perguntar se queria ir conviver. Eu gosto de conviver. Mas como não sabia de quem se tratava, resolvi descobrir o autor do convite de forma bastante original: sms com o conteúdo "Quem és?". Na minha inocência, estava longe de imaginar que passaria o resto da tarde numa discussão frenética em que o tema era a possibilidade (ou não) de o meu contacto estar escarrapachado na chat room do teletexto da TVI. Depois de insistir com o desconhecido interlocutor que isso era impossível, disse-lhe educadamente: "De qualquer forma, agradeço a informação e, caso o meu nº figure em qualquer chat, posso assegurar-lhe que é um engano e irei tomar providências para que seja retirado. Resto de boa tarde". Ao que ele me responde: "Fdx, es sp axim tao arrogante?" (humpf)

Semanas mais tarde, tinha eu acabado de cair no sono, por volta das 8 da manhã, recebo a seguinte mensagem: "Mor, queres vire fazer amor?" Desta vez, um convite misterioso para um rendez vous antes do pequeno almoço, com alguém rebelado contra a ortografia portuguesa...

Tendo em conta que isto foi o mais emocionante que me aconteceu no campo sentimental nos últimos tempos, tenho a dizer que o meu anúncio para convívio é o seguinte:




Mi liga, vai... ;)

Monday, July 7, 2008

Amor

Da crónica do Lobo Antunes na Visão da quinta-feira passada:

"Qualquer bom artista é uma mesa de espírita a receber mensagens do além, o que os torna, em certo sentido, quase irresistíveis: a quantidade de mulheres que sempre rodearam um monstro físico e moral como Sartre; Simenon gabava-se de ter dormido com quinze mil. Faz-me lembrar Billy The Kid, afirmando ter morto dezoito homens. Acrescentava
_Não contando os mexicanos
e esse tipo de proezas acabou para mim. Deixou de interessar-me. Uma única mulher basta: ela é todas. Nem sequer é uma questão de maturidade, é uma questão de não ser parvo."

Ora, nem mais!

Desafios loucos

Basicamente, Med, é a isto que eu me resumo às 2 da manhã, acabada de chegar da Zara e com exame de deontologia amanhã, para o qual estudei... hmmm... muito pouco, vá.



Estou "co'a mosca" porque logo hoje, que estou morta de sono, não posso ir dormir sem acabar de ler a m*** das aulas. Estou de língua de fora porque nas últimas 5 horas atendi centenas de clientes especialmente chatas, arrumei roupa, marquei baínhas, salvei uma criança de 4 anos de sufocar com a cabeça dentro de um saco de plástico enquanto a mãe desarrumava alegremente as camisolas e arrumei centenas de pares de sapatos amarinhando, qual símio, pelas prateleiras do armazém. Estou aflita (que tal a gotinha na testa, estilo gato da Sailor Moon, hein?) porque amanhã vou chumbar e é mais uma repetição a juntar à Prática Processual Civil. E a auréola é porque, com tudo isto, estou aqui divertidíssima a responder ao teu desafio, em vez de ir estudar... sou mesmo anjinha, às vezes...

Saturday, July 5, 2008

Vidrar vel til loftárása



(Sigur Ròs)

Hoje é só isto que me apetece: sons que são como um duche frio numa mente queimada.

Insónia


São seis da manhã. Ainda não consegui pregar olho. Estou excepcionalmente cansada. Não encontro os meus óculos na desarrumação do meu quarto. Já os procurei por todo o lado. Não sou nada sem os meus óculos. Não vejo. Não consigo ler. Estou a escrever este post estúpido com a cara a 3cm do monitor. O sol está a nascer. Consigo distinguir a silhueta do prédio da frente contra um céu claro, por entre os buracos da persiana. Não tenho nada para dizer. Tudo o que me apetece dizer não tem lugar aqui. Tenho o cérebro desfeito e o coração disparado. Deito-me e não posso dormir porque o barulho da minha própria pulsação enerva, como uma torneira que pinga. Estou a sentir-me claustrofóbica. Quero sair daqui. Quero adormecer. Sei que quando todo o prédio acordar e a vida recomeçar lá fora eu vou cair num sono profundo, para acordar à uma da tarde, alagada em suor. Sempre este desfasamento em relação ao resto do mundo. No sono e em tudo...

Friday, July 4, 2008

Isabel II*

A felicidade não existe. Existem as felicidades, cada uma com nome de pessoa. Conheci a Isabel em Setembro. Um súbito dia de Verão, a condizer com ela. Nesse dia senti que fiquei rica. Passei a referir-me a ela, perante todas as restantes pessoas, como a "minha Isabel". Uma espécie de propriedade de ternura. E hoje, sem esperar, a minha Isabel multiplicou-se. E acrescentou mais uma felicidade a todas as que vou aconchegando na concha das mãos. E agora, tenho duas Isabeis a iluminar-me os dias.




*Não me refiro a "essa" Isabel II, that old bat...

Leidi's naaaite...




Nota: Este não é um blog sobre a Amy Winehouse, embora pareça. É que eu gosto mesmo muito da música dela.

Wednesday, July 2, 2008

Sexual nationality

Descubram qual a vossa nacionalidade sexual. Have fun:

http://www.areyoubritishinbed.co.uk/flash/

Não publicarei o resultado do meu teste (surpreendentemente acertado e de morrer a rir) antes de saber as vossas. Por favor, sejam curiosos!! :D
Quando encontramos uma colega que já não vemos há 2 anos e ela nos aparece com 20 kg a mais, um dente podre e acne seborreico na testa, não dizemos nunca:
_Olá!! Estás tão mais gorda!E o que é que te aconteceu ao dente? Tens uma doença de pele? É contagiosa??
É uma questão de cortesia, de boa educação e de instinto de preservação da vida própria. Mesmo que depois passemos uma semana a especular acerca de uma possível gravidez.
Mas então porque é que as pessoas se acham no direito de me dizer, depois de me olharem da cabeça aos pés:
_Olá! Estás super magra! E com um ar tão abatido!... Estás doente ou assim?
Qualquer dia correrá o rumor de que tenho leucemia. Pelo menos se o meu cabelo continuar a cair desta maneira.

Tuesday, July 1, 2008

Os homens preferem as louras

Ontem, o "Público" publicou um artigo sobre a discriminação racial no mundo da moda. Nunca tinha reparado nisso, mas de facto é muito raro ver, por exemplo, capas de revista com manequins negros. Ao que parece, quando isto acontece, as vendas das revistas caem para metade. Depois de meia hora a pensar no Jamal e em como ficaria bem numa capa o meu vizinho moçambicano do 9º andar, continuo a ler e dou com a seguinte frase: "Mas quem trabalha mesmo são as loiras!!! Cá e em todo o mundo." A mulher loira vende. A mulher loira atrai muito mais do que a mulher morena. Desconfio que uma Maxmen com a Luciana Abreu platinada na capa tenha vendido muito mais do que com a Soraia Chaves. E é muito mais normal ver um homem babar frente ao ar deslavado da Cameron Diaz do que à monumentalidade de uma Monica Bellucci, embora o meu sentido estético diga que compará-las seria comparar agricultura às Belas Artes.
Os meus amigos homens confirmam a teoria: é vê-los virar a descaradamente a cabeça e ficar de língua de fora sempre que veêm passar uma esvoaçante cabeleira em qualquer tom de amarelo. O mesmo não acontece com morenas, ainda que estas tenham corpo de deusas do Olimpo e beleza petrarquiana.
E eu pergunto (sim, a VOCÊS HOMENS, leitores deste blog, ainda que sejam só 2) PORQUÊ???! E não vale dizer "É impressão tua".

Sunday, June 29, 2008

No tempo da outra senhora


Piquenas pérolas da educação da mulher portuguesa nos anos 60:

-Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças, 1957)
Certo. Em caso de dúvida, mandar o homem à m**** (Marta, 2008)
-Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afecto (Revista Cláudia, 1962)
Certo. Se confirmada a infidelidade do marido, a esposa deve dar carinho e provas de afecto... ao seu amante. (Marta, 2008)

-A desarrumação numa casa de banho, desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa (Jornal das Moças, 1965)
No Verão, o marido pode muito bem tomar banho com a mangueira, no pátio, e levar com ele a porcaria dos cremes da Nívea for Man, arrumando-os na garagem. (Marta, 2008)
-A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornal das Moças, 1959)
O marido pode descansar depois de ter lavado o chão, estendido a roupa, arranjado a torneira que pinga e ter aplicado o Frontline Combo no cão. (Marta, 2008)
-Se o seu marido fuma, não arranje zanga pelo simples facto de cair cinza nos tapetes. Tenha cinzeiros espalhados por toda a casa. (Jornal das Moças, 1957)
Não há necessidade de nos aborrecermos por tão pouco. Se a cinza cai no tapete, o marido aspira. E também pode levantar-se para nos ir buscar um cigarrinho pós-coital. (Marta, 2008)
-A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar a uma mulher que não tenha resistido a experiências pré-nupciais, mostrando que era perfeita e única, tal como ele a idealizara. (Revista Cláudia*, 1962)
A mulher deve estar ciente que dificilmente algum homem lhe pegará se ela não tiver tido experiências sexuais anteriores, mostrando que não é púdica e que é tão boa na cama como ele idealizara (embora não demasiado batida...) (Marta, 2008)
-Mesmo que um homem consiga divertir-se com a sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu. (Revista Querida, 1954)
Os homens tendem a divertir-se mais com mulheres que se fazem difíceis, ora fugindo ora deixando-se cair, quais ninfas da Ilha dos Amores. (Marta, 2008)
-O noivado longo é um perigo. (Revista Querida, 1953)
Oh, se é! Faça-se difícil durante demasiado tempo e vai ver para onde vai o seu querido... (Marta, 2008)

-É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957)
Devemos começar a preocupar-nos quando os cremes dele ocupam mais espaço que os nossos, a nossa pinça boa-que-arranca-os-pelos-e-não-os-corta-nem-belisca desaparece misteriosamente e a roupa interior dele é mais cara que a nossa lingerie. Por todas as razões e mais algumas. (Marta, 2008)



*Bolorenta, esta "Cláudia"... damn!!