Tuesday, September 30, 2008

Selva e cascata


"Também a cama é selva e cascata, é a recordação de algo primordial e não condicionado, cujo conteúdo e sentido são a própria vida. Se transformamos isso num jardim à inglesa, sem ervas daninhas, fica no seu lugar qualquer coisa de muito belo, ordenado e atraente, com flores deliciosamente perfumadas, combinando-se árvores e arbustos ornamentais, fontes múrmuras em brilhos de cores, mas é o fim da selva e da cascata por que desde sempre ansiávamos."

Sándor Márai, A mulher certa

Friday, September 26, 2008

Wednesday, September 24, 2008

Pergunta


Como seria o mundo hoje se o primeiro livro a ser impresso tivesse sido o Kama Sutra, em vez da Bíblia?

Monday, September 22, 2008

A mulher certa


Demasiado maravilhada com este livro de Sándor Márai para escrever seja o que for. Até para a semana.

Friday, September 19, 2008

Não sai barato...

Surpresa na caixa do correio: à mistura com a conta da luz, a "Dica da Semana", os folhetos das viagens promocionais e o catálogo da IKEA, um panfleto capaz de ser útil: bom para colar no frigorífico ao lado dos da telepizza. Anuncia um "serviço funerário com dignidade, ética, humanismo e qualidade". Fantástico_pensei eu. Sempre achei fascinante o negócio da morte. Mas nunca imaginei que viesse a tê-lo publicitado desta forma, com direito a número nacional grátis e informação sobre o pack completo de serviço funerário. Para o caso de acontecer alguma coisa. Pela módica quantia de €995, a empresa oferece:

1."organização técnica"
2."viaturas confortáveis" (é importante!)
3."pessoal profissional e uniformizado" (não me lembro de ter visto um coveiro de uniforme, a não ser o macacão da Câmara Municipal...)
4."urna ecológica estofada" (finalmente, uma urna biodegradável como nós!)
5."lençol e lenço"(a minha avó chamava-lhe mortalha. Mas hoje daria azo a confusões...)
6."livro de condolências" (Eu vou querer dedicatórias giras no meu)
7."pagelas" (não podem ser antes postais com gatinhos fofos?)
8."água e café no velório" ( eu acrescentaria algumas bebidas espirituosas. e xanax. e lenços de papel)

Aprendi que, para poder morrer, ainda tenho que trabalhar o suficiente para a "Conta Poupança Funeral".

Wednesday, September 17, 2008

O maquinista



Um filme surpeendente. Onde Dostoiévski se encontra com Kafka.

Nota: não recomendado a pessoas com tendência para a insónia.

suspensão (provisória?)

Meses e semanas e dias e horas e minutos e segundos de nada. os ponteiros que giram sobre o seu eixo sem saírem do lugar.um pêndulo oscila numa casa suspensa.nada acontece. nada me dói, a não ser o nada. estou em março e de repente é agosto e de repente é natal e de repente é março e eu sempre presa a esse março. Ou foi abril? Ou foi maio?não sei já, nem interessa. Hoje os bandos de pombos não cortam em aresta o vidro de nuvens da mesa do escritório.guardaram o voo, enrolados no eriçado das penas debaixo dos beirais. alguns são ratos em passinhos ridículos à procura de lixo.
Metodicamente corro na vida como um autómato. acordo sem ter dormido, como sem ter fome, só porque tenho que, trabalho sem vontade e sem objectivo. volto à minha casa sem ninguém e recomeço. não. repito…

Friday, September 12, 2008

êxtase súbito


IV

Se tudo fosse só êxtase súbito,
o papel intocável e intacto,
como o meu espaço e tu entrando devagar,
as portas que te abri
abrindo para a luz

Se tudo fosse só papel de prendas,
laços e colorido,
a festa do meu espaço
_ e de ti no meu espaço_
as coisas consonantes


Ana Luísa Amaral, Entre dois rios e outras noites
Foto de Pascal Renoux

O esquecimento inventa-se?

"A gente habitua-se, evidentemente, e esquece-se. Esquecemo-nos tanto. De tudo. O homem é como certos bichos: o que segrega transforma-se em pedra. Vive entre pedras, faz pedras de tudo. fé aviva-se, absolutamente. Mas conquistá-la como? Um filho pode tratar os pais com menos respeito. É da sua condição animal _ esquece-se. Mas não diz "vou amar os meus pais", não diz "vou inventar o amor". O amor não se inventa. O amor existe ou não existe, e é só. Posso conquistar uma ciência, um saber que ainda não tenho. Mas não se conquista uma afeição. Oh, pois, conquista-se uma mulher. Mas não o nosso amor por ela."

Vergílio Ferreira, Alegria breve

Thursday, September 11, 2008

(There is) No greater love



Já estavam com saudades?

Wednesday, September 10, 2008

Oração da noite


Now I lay me down to sleep,
I pray the Lord, while counting sheep:
If there's a soul left to take,
please, let me die before I wake...

Tuesday, September 9, 2008

O fim


"Todos os caminhos são bons, desde que sejam caminhos. O erro existe quando são um fim. Só há então um recurso, que é voltar ao princípio ou morrer."

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

Wednesday, September 3, 2008

Hoje não acordei

Há dias de pesadelos piores que os das noites em que não se dorme.

(Foto de Jan Saudek)

Depression

Tuesday, September 2, 2008

Amor cego

"_ A vida é estúpida, Ema, não tem "porquê". Os actos essenciais da vida realizamo-los com os olhos fechados: o prazer da boa música, ou da boa mesa, ou o prazer amoroso, ou a união com Deus. Até mesmo, se quiser, o próprio descomer. Tudo o que é essencial é cego. Fechamos sempre os olhos.É por isso que no-los fecham quando morremos, se os deixamos abertos."

Vergílio Ferreira, Alegria Breve

Lovers, Magritte

Monday, September 1, 2008

Ao último post do DIAPORESE


(Foto de Michal Macku)