Wednesday, January 10, 2007

Carta de Amor

Entraste na minha vida. Era Natal e eu sofria de uma insónia incurável.
Encheste-me as noites de palavras, de memórias futuras, de vozes, de nevoeiro.
Umas vezes, o que tentas dizer-me é incompreensível, outras pareces eco da voz do meu sangue.
Viciei-me em ti, deixei-me levar, apaixono-me mais um pouco a cada encontro.
Já não és um simples amante que me preenche as madrugadas. Estás comigo nas viagens, acompanhas-me no trabalho, estás ao meu lado quando como (quando, por ti, não me esqueço de comer).E eu não consigo largar-te.
No dia em que a paixão esmorecer (o dia em que conseguir decifrar-te) sei que jamais poderá haver volta. Arrumo-te na prateleira das paixões antigas. E ficará apenas a memória estilhaçada das tuas vozes, a assombrar-me outras noites sem sono.


(ao livro "Ontem não te vi em Babilónia", de A. Lobo Antunes)