Wednesday, February 25, 2009

Fim

Não, não é o fim deste blog (isso foi um suspiro de alívio ou de desilusão?). É o fim destas minhas férias que já duram há tempo demais. Vim para a terrinha no Natal e por cá fui ficando, na tentativa de organizar as ideias, recuperar o sono perdido e ultrapassar os 50 quilos de peso. Organizei ideias? Pá... não. Mas recuperei o sono. E ultrapassei os 50 quilos (eu sei, são só 500 gramas a mais, mas é assim que se começa). E tirei um curso, para enriquecer o CV. Nem tudo foi perdido.

No início, foi muito muito bom estar aqui sem nada para fazer, rodeada de silêncio, com a serra emoldurada na minha janela, livros e mais livros para ler, um sofá, uma lareira e uma manta. E a família, pois claro. E a boa comidinha. Mas tudo o que é demais enjoa, e o sossego passou a tédio, e a Dra. B. deve pensar que morri, porque não dou notícias há meses.

Portanto, segunda-feira lá estarei, fresca e fofa, para me apresentar ao trabalho, procurar outro part-time (as advogadas estagiárias também comem) e matar saudades dos autocarros dos SMTUC. E por causa disso estou numa ansiedade estúpida, simplesmente porque tudo o que implica mudança, ainda que seja para algo mais-que-conhecido, me deixa ansiosa. Entretanto, vou ali meter umas tralhas em caixotes para levar e já volto.

Tuesday, February 24, 2009

Porque tenho saudades tuas, Che

Hã???

Parece que a PSP apreendeu alguns exemplares de um livro sobre pintura que traziam na capa a reprodução d' "A origem do Mundo" de Courbet, por as considerarem pornográficas. Têm a certeza que não foi uma partida de Carnaval? Estamos em 1939? Salazar está vivo?

Thursday, February 19, 2009

Tens um cigarro?

Li num sítio qualquer que a solidão é tão prejudicial como o tabaco. Deve ser isso que explica esta tosse estranha que não me larga as noites. E o problema é que isto não vai lá com nicoretes.
Solidão
Um mar rodeia o mundo de quem está só. É
o mar sem ondas do fim do mundo. A sua água
é negra; o seu horizonte não existe. Desenho
os contornos desse mar com um lápis de
névoa. Apago, sobre a sua superfície, todos
os pássaros. Vejo-os abrigarem-se da borracha
nas grutas do litoral: as aves assustadas da
solidão. "É um mundo impenetrável", diz
quem está só. Senta-se na margem, olhando
o seu caso. Nada mais existe para além dele, até
esse branco amanhecer que o obriga a lembrar-se
que está vivo. Então, espera que a maré suba,
nesse mar sem marés, para tomar uma decisão.
Nuno Júdice, Pedro, lembrando Inês

Monday, February 16, 2009

O Cavaleiro e o Anjo



Porque o concerto de Sábado me fez relembrar Zeca Afonso...

Sunday, February 15, 2009

"Ser adulto é...

... ter uns pés que não crescem mais."
(Anónimo)

Tuesday, February 10, 2009



Esta manhã encontrei o teu nome nos meus sonhos
e o teu perfume a transpirar na minha pele. E o corpo
doeu-me onde antes os teus dedos foram aves
de verão e a tua boca deixou um rasto de canções.

No abrigo da noite, soubeste ser o vento na minha
camisola; e eu despi-a para ti, a dar-te um coração
que era o resto da vida - como um peixe respira
na rede mais exausta. Nem mesmo à despedida

foram os gestos contundentes: tudo o que vem de ti
é um poema. Contudo, ao acordar, a solidão sulcara
um vale nos cobertores e o meu corpo era de novo
um trilho abandonado na paisagem. Sentei-me na cama

e repeti devagar o teu nome, o nome dos meus sonhos;
mas as sílabas caíam no fim das palavras, a dor esgota
as forças, são frios os batentes nas portas da manhã.


Maria do Rosário Pedreira


(desculpem, mas esta poetisa tornou-se um vício...)

Wednesday, February 4, 2009

Pais???


Os progenitores das crianças portuguesas querem que o Ministério da Educação tenha as escolas do 1º ciclo abertas das 7h às 19h. Desta forma, podem ir despejar os petizes mal acordem, para só voltar a recolhê-los quando já estão a cair de sono. Espanta-me que não queiram também que a escola esteja aberta aos fins de semana, ou que os professores e auxiliares dêem o banho e o jantar aos alunos antes de os paizinhos os irem buscar. Afinal, criar um filho pode não dar assim tanto trabalho...
É claro que a grande maioria das pessoas precisa de trabalhar em horários que não se compadecem com as horas que uma criança de 6 a 10 anos deve passar na escola. Mas isso sempre foi assim: só que antes a professora era a segunda mãe, não a primeira ou a única. Os avós não estavam num lar _ estavam ao portão da escola para nos levarem para casa e nos darem pão com marmelada e nos contarem histórias. Os irmãos mais velhos tomavam conta dos mais novos. As crianças brincavam juntas na rua ou nos jardins, até um dos pais chegar a casa. Caíam, esfolavam os joelhos, partiam a cabeça, andavam à pancada... Mas ninguém processava a Câmara ou a escola. No máximo levavam um par de tabefes por não se terem portado bem. E eram geralmente felizes.
Hoje recebem brinquedos caros no Natal, nunca são repreendidos, na escola tudo tem que ser divertido, não se podem cansar, nem fazer trabalhos de casa, não ajudam a tomar conta dos irmãos, não ajudam a mãe a fazer bolos aos sábados, não sabem o que são os avós nem para que é que eles servem. Acordam aos 18 anos e não sabem quem são os pais, nem os pais sabem quem são os filhos.
E depois dizem que o que os traumatiza são as correcções a vermelho...

Texto escrito às escuras numa destas noites

Faltou a luz, por causa do temporal. Ficou tudo mergulhado na escuridão. Escrever à luz da vela é uma experiência quase macabra, principalmente se o vento bate com a força de um oceano contra a muralha granítica da serra e reflui em ondas por entre as copas das árvores. Dos alicerces da minha casa surge o crânio perfurado a tiro do primeiro empreiteiro. Ouço-o chorar lá fora, sentado no muro do alpendre, abanando os pés sobre a sua obra eternamente inacabada.
Queria que a luz voltasse. Medo que a vela se apague e me deixe cega outra vez, a tactear o caminho no imenso tédio de quem não vê. O medo de bater contra os móveis da casa, que aproveitam o escuro para nos rasteirar, colocando-se nos sítios mais extraordinários. Quando a luz regressar, voltarão num ápice ao seu lugar, assobiando inocências, de olhos no tecto.