Sunday, August 3, 2008

Viagem


Mudei. É nisso que penso, nesta viagem de regresso de um lugar onde já fui tão feliz e que é uma memória de riso ternura família amizade aconchego amor. Um cesto cheio de recordações redondas e brilhantes como maçãs. E no meio o sabor acre e a mancha bolorenta de um fruto vermelho, a contaminar todas as outras, no silêncio, como uma ferida aberta.
O mar de Espinho e as suas ruas tiradas a esquadro, vão ficando para trás, batidas de vento. Não quero lembrar nada. O passado é uma figura rupestre feita com os dedos e o sangue e que representa uma felicidade extinta. Vou sentada no comboio, avanço de costas, sempre a olhar para trás: as árvores, as casas, os campos, as fábricas a fugirem para longe. Não chega a hora de viajar no sentido correcto, com a vida a entrar-me pelos olhos adentro...

1 comment:

Unknown said...

O passado é carvão nesse comboio e nada mais. É hora de extinguir a fuligem dos cabelos espessos, de acender o âmago com as brasas que ardem e de agarrar, com os olhos cheios, a Vida que caminha ao nosso lado.