Ainda sou uma estranha na minha própria casa. Não costumo gostar de mudanças, mas mudar de casa tem sido uma experiência especialmente terrível. Depois de 24 anos a viver "provisoriamente" numa casa velha, húmida, gelada no inverno e um forno no verão, que era, inexplicavelmente, o refúgio preferido das aranhas, centopeias e outras bichezas, mudo-me para aquele casarão novinho em folha, construído de raiz, com todo o conforto e as maravilhas do chão radiante e sinto-me desalmada. Entro no quarto e sinto-lhe o cheiro estranho a madeiras e a tinta. Até o simples riscar de uma caneta num papel escorre na nudez das paredes e a minha respiração faz um eco assustador. Ainda não tenho cama, mas isso são pormenores. O pior é não ter uma estante, nem uma secretária com uma cadeira para trabalhar, e ter ainda os meus livros e fotografias e tralhas inúteis em caixotes. Estar naquela casa é um pouco como acampar num lugar estranho. Ainda não posso chamar-lhe "minha".
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