Tuesday, November 18, 2008

Homeless


Ainda sou uma estranha na minha própria casa. Não costumo gostar de mudanças, mas mudar de casa tem sido uma experiência especialmente terrível. Depois de 24 anos a viver "provisoriamente" numa casa velha, húmida, gelada no inverno e um forno no verão, que era, inexplicavelmente, o refúgio preferido das aranhas, centopeias e outras bichezas, mudo-me para aquele casarão novinho em folha, construído de raiz, com todo o conforto e as maravilhas do chão radiante e sinto-me desalmada. Entro no quarto e sinto-lhe o cheiro estranho a madeiras e a tinta. Até o simples riscar de uma caneta num papel escorre na nudez das paredes e a minha respiração faz um eco assustador. Ainda não tenho cama, mas isso são pormenores. O pior é não ter uma estante, nem uma secretária com uma cadeira para trabalhar, e ter ainda os meus livros e fotografias e tralhas inúteis em caixotes. Estar naquela casa é um pouco como acampar num lugar estranho. Ainda não posso chamar-lhe "minha".

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