Wednesday, July 30, 2008

Cinema de Verão

Toda a gente sabe que o Verão é a época do ano em que o cinema bate no fundo. As salas exibem filmes de grandes orçamentos mas que não sabem a nada. Comédias ridículas, batidas como prostitutas velhas; enredos de acção estupidificantes, e grandes produções cheias de efeitos especiais enjoativos. Para quem não tem férias, nem dinheiro para escapadinhas de fim de semana, sentar-se na frescura do sofá da sala num sábado à tarde, é ser obrigado a levar com mais do mesmo: é sempre o Steven Seagal a partir pescoços com os olhos meio fechados e animaizinhos que falam ou são muito inteligentes e salvam criancinhas, ou filmes para teenagers em que existe sempre o campeão de football, a cheerleader e o grupo dos freaks. Pior que isso, só os épicos.

É por isso que, no Verão, revejo sempre os filmes que me marcaram, nem que para isso tenha que andar a farejar no caixote das VHS até encontrar o "Filadélfia", em péssimo estado de conservação.
Este Sábado vou rever este:


"Amores Perros" (Amor Cão)
De Alejandro González Iñarritu
2000

Saturday, July 26, 2008

Cravos mortos

Há certas coisas que, lidas a frio e sem aviso, provocam golfadas de vómito. Senão vejam:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1336632&idCanal=62

E poupem-se à leitura dos comentários. Arriscam-se a ficar com o pâncreas deslocado e as unhas dos pés a crescer para dentro, como eu.

Friday, July 25, 2008

Island Blues



Hoje sinto-me assim. Um sangue grosso de lama que não encontra veias por onde escoar. O coração quase parado no esforço de uma subida. Mastigo a chuva fina que cai lá fora e que nem chuva é. O cérebro vazio de ideias, a ecoar passados acontecidos e inventados como as espirais de um búzio. Sou a pessoa mais triste à face da terra. E a mais só. E a pior. Não há relativização possível.
Se ao menos tivesse a coragem de diluir o sangue em álcool, vomitar a chuva que me enche o estômago, chorar até adormecer. Em vez de calar tudo num punho fechado de nervos e na dor dos maxilares que se apertam na febre intermitente do sono.

Tuesday, July 22, 2008

Take the box


Olho para as fotografias e não te reconheço. É como se nunca tivesses existido. Como não existiu o teu carro à porta do meu prédio, não existiu aquela praia escondida na serra, não existiram as manhãs de lençóis revoltos, nem as tuas mãos, nem intermináveis conversas ao telefone, noite dentro, nem os teus cabelos, nem a minha pele. Olho para as fotografias e sinto que podia rasgá-las sem um estremecimento. São papéis lustrosos, de sorrisos. Vazios.
Lembro tudo como se tivesse sido um sonho. Junto as fotografias à caixa onde estão as cartas que também não existiram. E os fantasmas de tudo o que me deste. Cheguei a querer entregar-ta. Cheguei a querer ver tudo espalhado na tua rua, o sangue de um espetáculo de morbidez, os vizinhos à janela. Talvez para tentar re-presentar tudo. Já não preciso. Os fantasmas já não me assustam. Como nunca te assustaram a ti. Não existo.

Friday, July 18, 2008

...

Há um mês que não conseguia chorar, embora me sentisse como se. Então li isto:



Mar Morto


O dia nasceu como um mar morto.

Sem que o barro cantasse. Sem perfume.

Sem que a luz fizesse piruetas de alegria.



Estou dentro de uma hora há mais de um mês,

Num lúcido verdete adormecido.

Quero olhar pela janela e não consigo.

só ouço o som do tempo contra a margem.




Isabel Cristina Pires



E o dique, finalmente, cedeu.

Wednesday, July 16, 2008

Fast Forward

Na maior parte dos dias, apetecia-me fazer um "rewind" na minha vida. Mas penso que também seria interessante ter um botãozinho de "fast forward" só para espreitar breves minutos de como e onde estaremos daqui a 10 ou 20 anos. Um pouco como quando estamos a ler um livro ligeiramente desinteressante e lemos a última página para ver se valerá ou não a pena continuar. Sempre me imaginei a morrer podre de velha e completamente senil, sozinha num apartamento, e que os vizinhos só dariam conta quando notassem um vago cheiro a cadáver no 2º andar e os sacos do pão acumulados na porta. Agora sou menos pessimista. Imagino-me mais ou menos assim:



Eu sou, obviamente, a aventesma desfalecida no sofá. O filho não é um dos miúdos do spot publicitário do Ponto Verde, mas é o que se arranja. E esta conversa toda foi só o pretexto para vos deixar este vídeo da MadTV antes do exame de Penal.

Liberdade

"Se eu opto por aquilo que me contraria, se opto por aquilo que se opõe à minha real vontade, se sou honesto contra aquilo que em mim me impele para a desonestidade, como entender que esse escolher "contra" não é de facto um escolher "segundo" aquilo que sou?"

Vergílio Ferreira, Invocação ao meu corpo

Actualizações

Depois de uma ausência forçada durante alguns dias (o computador recusava-se terminantemente a iniciar programas que exigissem ligação à Internet, coisa que resolvi desligando uma coisa que se chama Firewall e que não sei para que serve*), voltei! Não devia. Devia estar a aproveitar a insónia para estudar para o exame de amanhã. Mas eis que valores mais altos se alevantam!!

1º: Agradecer à querida Med o prémio atribuído. Quem me conhece bem sabe o medo que tenho dos gatos. O que explica muitas coisas...

2º: Publicar oficialmente o resultado da sondagem "Porque é que os homens preferem as louras?". Dos 10 génios que têm uma opinião sobre o assunto, 2 são mulheres inteligentes. E 8 são homens que se assumem como primários e de instintos animalescos básicos. Concluo, portanto, que esta sondagem não revelou nada de novo, pelo que está à altura das realizadas pela Católica para a RTP e a SIC/Expresso. :)

3º: Anunciar o final dos exames da OA e o regresso ao Office.

4º: Anunciar que o José Cid estará um deste dias nesse grande evento chamado Fiagris naquela que é a cidade que me viu nascer. E eu não estarei lá!


*Obrigada pela dica, mano génio informático. Um dia destes explicas-me para que serve essa coisa de firewall...

Wednesday, July 9, 2008

Mulher


FEMININO, SINGULAR

Sou composta por cubos e por esferas
donde brotam meigos decaedros
sou composta por trapos, manchas de tinta sem plano
e dedos rupestres a castanho,
o ocre na vizinhança do rosado, o pó de lápis-lazúli
na clara de ovo, o vermelhão nos seios,
sou composta de diálogos frouxos, de troncos
de árvores em pleno verão,
das ternuras de um gato preto e branco, de insectos
de níquel a voar brilhando, sou composta
de pêlos que caem no outono e águas duras.
Sou composta por mãos que doem nos braços e
por regaços com olhos sempre à superfície,
sou composta de estrelas na tapeçaria do palácio, de gritos
na rua – quem me chama? –,
de nuvens de hélio e náiades em gaiolas, facilitam
a visão, as trocas, o comércio com os homens,
sou composta pela morte que de vez em quando acorda,
por isso desconfio, sou composta pelo desejo que grita
de tal modo que não se ouve ao perto,
sou composta pela água que oscila com as marés, pelo
vapor da submissão, pelo destino obstinado.
Ou eu não fosse uma mulher.

Isabel Cristina Pires in Cobra de Papel

Tuesday, July 8, 2008

Lowered expectations

Há uns meses, recebi uma mensagem no telemóvel a perguntar se queria ir conviver. Eu gosto de conviver. Mas como não sabia de quem se tratava, resolvi descobrir o autor do convite de forma bastante original: sms com o conteúdo "Quem és?". Na minha inocência, estava longe de imaginar que passaria o resto da tarde numa discussão frenética em que o tema era a possibilidade (ou não) de o meu contacto estar escarrapachado na chat room do teletexto da TVI. Depois de insistir com o desconhecido interlocutor que isso era impossível, disse-lhe educadamente: "De qualquer forma, agradeço a informação e, caso o meu nº figure em qualquer chat, posso assegurar-lhe que é um engano e irei tomar providências para que seja retirado. Resto de boa tarde". Ao que ele me responde: "Fdx, es sp axim tao arrogante?" (humpf)

Semanas mais tarde, tinha eu acabado de cair no sono, por volta das 8 da manhã, recebo a seguinte mensagem: "Mor, queres vire fazer amor?" Desta vez, um convite misterioso para um rendez vous antes do pequeno almoço, com alguém rebelado contra a ortografia portuguesa...

Tendo em conta que isto foi o mais emocionante que me aconteceu no campo sentimental nos últimos tempos, tenho a dizer que o meu anúncio para convívio é o seguinte:




Mi liga, vai... ;)

Monday, July 7, 2008

Amor

Da crónica do Lobo Antunes na Visão da quinta-feira passada:

"Qualquer bom artista é uma mesa de espírita a receber mensagens do além, o que os torna, em certo sentido, quase irresistíveis: a quantidade de mulheres que sempre rodearam um monstro físico e moral como Sartre; Simenon gabava-se de ter dormido com quinze mil. Faz-me lembrar Billy The Kid, afirmando ter morto dezoito homens. Acrescentava
_Não contando os mexicanos
e esse tipo de proezas acabou para mim. Deixou de interessar-me. Uma única mulher basta: ela é todas. Nem sequer é uma questão de maturidade, é uma questão de não ser parvo."

Ora, nem mais!

Desafios loucos

Basicamente, Med, é a isto que eu me resumo às 2 da manhã, acabada de chegar da Zara e com exame de deontologia amanhã, para o qual estudei... hmmm... muito pouco, vá.



Estou "co'a mosca" porque logo hoje, que estou morta de sono, não posso ir dormir sem acabar de ler a m*** das aulas. Estou de língua de fora porque nas últimas 5 horas atendi centenas de clientes especialmente chatas, arrumei roupa, marquei baínhas, salvei uma criança de 4 anos de sufocar com a cabeça dentro de um saco de plástico enquanto a mãe desarrumava alegremente as camisolas e arrumei centenas de pares de sapatos amarinhando, qual símio, pelas prateleiras do armazém. Estou aflita (que tal a gotinha na testa, estilo gato da Sailor Moon, hein?) porque amanhã vou chumbar e é mais uma repetição a juntar à Prática Processual Civil. E a auréola é porque, com tudo isto, estou aqui divertidíssima a responder ao teu desafio, em vez de ir estudar... sou mesmo anjinha, às vezes...

Saturday, July 5, 2008

Vidrar vel til loftárása



(Sigur Ròs)

Hoje é só isto que me apetece: sons que são como um duche frio numa mente queimada.

Insónia


São seis da manhã. Ainda não consegui pregar olho. Estou excepcionalmente cansada. Não encontro os meus óculos na desarrumação do meu quarto. Já os procurei por todo o lado. Não sou nada sem os meus óculos. Não vejo. Não consigo ler. Estou a escrever este post estúpido com a cara a 3cm do monitor. O sol está a nascer. Consigo distinguir a silhueta do prédio da frente contra um céu claro, por entre os buracos da persiana. Não tenho nada para dizer. Tudo o que me apetece dizer não tem lugar aqui. Tenho o cérebro desfeito e o coração disparado. Deito-me e não posso dormir porque o barulho da minha própria pulsação enerva, como uma torneira que pinga. Estou a sentir-me claustrofóbica. Quero sair daqui. Quero adormecer. Sei que quando todo o prédio acordar e a vida recomeçar lá fora eu vou cair num sono profundo, para acordar à uma da tarde, alagada em suor. Sempre este desfasamento em relação ao resto do mundo. No sono e em tudo...

Friday, July 4, 2008

Isabel II*

A felicidade não existe. Existem as felicidades, cada uma com nome de pessoa. Conheci a Isabel em Setembro. Um súbito dia de Verão, a condizer com ela. Nesse dia senti que fiquei rica. Passei a referir-me a ela, perante todas as restantes pessoas, como a "minha Isabel". Uma espécie de propriedade de ternura. E hoje, sem esperar, a minha Isabel multiplicou-se. E acrescentou mais uma felicidade a todas as que vou aconchegando na concha das mãos. E agora, tenho duas Isabeis a iluminar-me os dias.




*Não me refiro a "essa" Isabel II, that old bat...

Leidi's naaaite...




Nota: Este não é um blog sobre a Amy Winehouse, embora pareça. É que eu gosto mesmo muito da música dela.

Wednesday, July 2, 2008

Sexual nationality

Descubram qual a vossa nacionalidade sexual. Have fun:

http://www.areyoubritishinbed.co.uk/flash/

Não publicarei o resultado do meu teste (surpreendentemente acertado e de morrer a rir) antes de saber as vossas. Por favor, sejam curiosos!! :D
Quando encontramos uma colega que já não vemos há 2 anos e ela nos aparece com 20 kg a mais, um dente podre e acne seborreico na testa, não dizemos nunca:
_Olá!! Estás tão mais gorda!E o que é que te aconteceu ao dente? Tens uma doença de pele? É contagiosa??
É uma questão de cortesia, de boa educação e de instinto de preservação da vida própria. Mesmo que depois passemos uma semana a especular acerca de uma possível gravidez.
Mas então porque é que as pessoas se acham no direito de me dizer, depois de me olharem da cabeça aos pés:
_Olá! Estás super magra! E com um ar tão abatido!... Estás doente ou assim?
Qualquer dia correrá o rumor de que tenho leucemia. Pelo menos se o meu cabelo continuar a cair desta maneira.

Tuesday, July 1, 2008

Os homens preferem as louras

Ontem, o "Público" publicou um artigo sobre a discriminação racial no mundo da moda. Nunca tinha reparado nisso, mas de facto é muito raro ver, por exemplo, capas de revista com manequins negros. Ao que parece, quando isto acontece, as vendas das revistas caem para metade. Depois de meia hora a pensar no Jamal e em como ficaria bem numa capa o meu vizinho moçambicano do 9º andar, continuo a ler e dou com a seguinte frase: "Mas quem trabalha mesmo são as loiras!!! Cá e em todo o mundo." A mulher loira vende. A mulher loira atrai muito mais do que a mulher morena. Desconfio que uma Maxmen com a Luciana Abreu platinada na capa tenha vendido muito mais do que com a Soraia Chaves. E é muito mais normal ver um homem babar frente ao ar deslavado da Cameron Diaz do que à monumentalidade de uma Monica Bellucci, embora o meu sentido estético diga que compará-las seria comparar agricultura às Belas Artes.
Os meus amigos homens confirmam a teoria: é vê-los virar a descaradamente a cabeça e ficar de língua de fora sempre que veêm passar uma esvoaçante cabeleira em qualquer tom de amarelo. O mesmo não acontece com morenas, ainda que estas tenham corpo de deusas do Olimpo e beleza petrarquiana.
E eu pergunto (sim, a VOCÊS HOMENS, leitores deste blog, ainda que sejam só 2) PORQUÊ???! E não vale dizer "É impressão tua".