As primeiras páginas que usei para escrever foram as de um diário. Ainda não tinha feito 7 anos e continuei a usá-lo por muito tempo. À mistura com as confissões ridículas do costume, encontrei um conto que nunca cheguei a terminar. Quando o escrevi tinha 10 anos e, felizmente, o que me sobrava em imaginação faltava-me em sentido auto-crítico. Transcrevo-o tal como está (os erros são os do original).
"No tempo em que os animais falavam davam-se estranhos acontecimentos que vale a pena contar.
No Vale Feliz todos os animais se davam bem. As casas eram feitas de doces, as escolas mais divertidas.
O Vale Feliz era um estranho lugarejo esquecido.
Mas vamos à história.
Bem no centro da aldeia havia uma casa muito grande, mas apenas se conservava o seu interior. Era uma casa velha, o jardim era uma selva, excepto um grande castanheiro que permanecia ali dando beleza àquele lugar.
O Nico e a Mariana eram dois irmãos gatinhos, muito amigos. Como não tinham nada que fazer no Verão, decidiram espreitar o quintal da velha casa.
Os dois entraram bem devagar e correram até ao castanheiro.
_Olha, Nico! Este ramo dá para fazer um baloiço formidável!
_É uma boa ideia. Vou já à garagem do pai! _ disse o Nico, correndo até lá.
Pegou numa tábua e numa grossa corda e voltou ao local.
Os dois trabalharam no baloiço e quando ficou pronto, ouviu-se uma voz:
_Qui! Qui! Que fazem aqui?
Ao princípio não ligaram e julgaram ser o vento, mas depois prestaram atenção...
_Qui! Qui! Que fazem aqui? _ disse uma barata, vestida de preto, que saiu da casa.
Os dois correram e esconderam-se na loja de gelados.
A velha barata voltou para dentro.
_ Mas que monstro! _ exclamou a Mariana.
Nico concordou:
_Sim, mas eu acho que aquele baloiço é mágico! _ olhando para o baloiço que agora estava rodeado de estrelas.
_Foi a fada Íris! _ respondeu Mariana encantada _ Vamos lá de novo!
_Está bem.
Os dois pularam o velho muro e aproximaram-se.
O baloiço parecia gritar:
_"Sentem-se! Sentem-se!"
_Vou experimentá-lo _ resolveu o Nico.
Montou o baloiço e balançou-se.
De repente subiu no ar e desapareceu.
_Espera! Eu quero ir aí! _ gritou Mariana e seguiu o exemplo. Encontrou então o irmão e um mundo mágico.
Parecia uma feira! Uma feira diferente. Numa barraca amarela e verde uma cadelinha oferecia a todos pipocas. O ursinho Kevin vendia balões coloridos e uma minhoca oferecia gelados deliciosos. Os carroceis eram só para eles. Não havia mais pessoas ali.
Depois do divertimento, uma fada humana vestida de arco-íris disse:
_Voltem já para baixo. A única saída é por ali. _ aconselhou ela apontando um alçapão no meio das nuvens.
Eles seguiram por ali e caíram na sua cadeira à mesa. Já havia escurecido e os pais aguardavam."