Tuesday, November 30, 2010

amor no sangue

Pudesse eu rasgar as veias, pôr o coração a bater fora de mim: reconstruir-te de amor.

Monday, November 29, 2010

Sondagem do mês

Esta vai para todos os que namoravam em veículos cujas letras da matrícula apareciam antes dos números, com o auto-rádio sintonizado no Oceano Pacífico ou a ler cassetes especificamente gravadas para esse fim, em pinhais/eucaliptais/descampados/Serra da Boa Viagem. Qual a melhor música para "curtir", na década de 90?










Saturday, November 20, 2010

A voz do povinho

Andar de autocarro tem as suas vantagens, e uma delas é assistir a comentários políticos mais bem informados, fundamentados e eloquentemente proferidos do que os de qualquer analista ou opinion maker famoso.
O dia de ontem foi marcado pela cimeira da NATO e, quanto a isso, dizia uma senhora comentadora (70 anos, mise cinzenta, voz forte projectada até aos últimos bancos):
Esses da cimeira andam-nos a comer tudo e nós a ver! P'ra ser bem, era uma granada _ Buuuuumm!_ no meio deles todos, que lhes arrebentasse aquele cu! Todos prá puta que os pariu, masé! Que nisto, o único que se aproveita inda é o Obama. Esse, se quisesse, tinha cá cama, mesa e roupa lavada, e se casasse comigo ainda tinha direito a sexo, que eu mesmo com 71 ano ainda a tenho no sítio.
Isto agora é só bandalhos! Porque nas escolas, na vez de ler e escrever, agora ensinam é sexo! É só sexo, hão-de ser todas umas putas. Se bem que, com a crise que vai, nem as putas se safam!
Não conseguem imaginar o que me custou sair na minha paragem, bem a meio do programa. O Obama devia ter marcado encontro com ela, para um almoço de trabalho de arroz de feijão e pataniscas, bem regado de carrascão e levar de souvenir uma peça de louça das Caldas, para pôr em cima da lareira da Casa Branca. Aposto que pensaria seriamente em mudar-se para cá.

Friday, November 19, 2010

Tuesday, November 16, 2010

Nostalgias animadas

Os desenhos animados fazem parte da infância de toda a gente. E eu sou das que tem muitas saudades das tardes de inverno frente à TV a comer pão com marmelada e a ver os "bonecos". E se tivesse que fazer um top 5...












E vocês? De qual gostavam mais?
"Diz-se que a morte embeleza aqueles que fulmina e exagera as suas virtudes, mas no geral era a vida que não os favorecia. A morte, essa piedosa e irrepreensível testemunha, ensina-nos, segundo a verdade, segundo a caridade, que em cada homem há habitualmente mais bem do que mal."
Michelet

Monday, November 15, 2010

Olá, sou a nova vizinha do segundo!


Mudei de casa. A bem da independência pessoal, sanidade mental e relações familiares entre os meus primos caloiros e eu.


O prédio onde vivia tinha 9 andares com 4 apartamentos cada um. O actual tem 4 andares com 3 apartamentos cada e é desprovido de elevador (alguém se oferece para me ajudar a mudar o sofá?).


Descobri que viver num bairro-dormitório em Coimbra é muito diferente de viver nesta aldeia à porta da cidade. Até agora, a última parece-me melhor: vistas de luxo para o luxo, pastelaria, mini-mercado, loja de ferragens e cabeleireiro pertíssimo, excelente isolamento acústico. Ausência de bandas de garagem e afins e, até ver, ausência de senhoras do círculo de leitores, comerciais das tv's por cabo, testemunhas de jeová e outros que costumam bater-nos à porta precisamente quando estamos a pintar as unhas dos pés, de roupão, com creme descolorante no buço e cabelo desgrenhado.


Mas as odisseias com os vizinhos continuam. E se no anterior apartamento o problema era a escassez de isolamento de som, aqui é a escassez de lugares de estacionamento: logo na primeira semana, cometi o erro crasso de estacionar o bólide frente a uma das garagens do prédio. Era para ser só por 5 minutos, mas adormeci e acordei meia hora depois, com buzinadelas frenéticas e a campaínha da porta a tocar como se houvesse um incêndio: tive que encarar, de olhos remelosos, a cara furiosa do dono da garagem, que é desses sujeitinhos que penduram as meias na corda por degradé de cores, e pedir mil desculpas, enquanto tentava recuar, com as lentes de contacto secas.


Depois, começamos a estacionar num excelente lugarzinho que (aparentemente) não incomodava ninguém, entre um carro sem rodas coberto por um toldo e um renault clio velho com todos os pneus furados. E os nossos carros começaram a aparecer "trancados" por este último. Sem que ninguém se apercebesse, o dono fazia-o descair para nos impedir de sair dali. Com manobras de génio e alguns toques no carro dele, sempre conseguimos contornar o obstáculo. Até sábado...


Furiosas, em cima da hora para ir trabalhar, vai de buzinar até que o polegar nos doa. Aparece a vizinha do quarto, vociferando que não-sei-quem estava convencido que aquilo era tudo dele e que tinha a mania de trancar tudo quanto era veículo e que até já havia queixa na polícia municipal. Que vivia no prédio do mini-mercado e toda a gente sabia quem ele era. Eu, de cabelos em pé, decidi logo chamar a polícia com um reboque, mas a Cláudia, mais sensata e pacífica, achou melhor tentarmos encontrar o homem para falar civilizadamente. Depressa percebi que a situação não era nova, porque toda a gente no mini-mercado sabia bem de quem é que eu andava à procura. Porém, informaram-me que sim, senhor, o homem arrenda o espaço todo e que se ele já nos tinha trancado o carro, não tínhamos nada que o lá deixar. Retorqui que eu não adivinho que contratos de arrendamento é que ele tem, que sem placa de "parque privado" eu deixo lá quantos carros quiser, e que vou chamar já a polícia.

Claro que, já depois de eu ter apanhado outra boleia para ir trabalhar, aparece o homenzinho, na sua motoreta, vindo de um tasco qualquer com um bafo bastante esclarecedor e que talvez tenha sido a causa de ele se espetar de mota contra o portão da própria garagem. Vinha indignadíssimo, que não tirava o carro não senhora! Isto é tudo meu e o camandro, e não sei como tiraram daqui o carro das outras vezes, e a polícia, e Pombal e Castelo Branco, uma salganhada. A Cláudia lá optou por conversar com os filhos do homem, sóbrios e sensatos, que acabaram por tirar o carro. Chegou a polícia e não foi preciso sair da sua viatura branca e azul. E o vizinho continua sem lá pôr a placa de "Parque Privado"...

Sunday, November 14, 2010

I don't feel alone I don't feel alone I don't feel alone I don't feel alone I don't feel



There is a house built out of stone
Wooden floors, walls and window sills...
Tables and chairs worn by all of the dust..
This is a place where I don't feel alone
This is a place where I feel at home.......


Cause, I built a home
for you
for me

Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust........




Out in the garden where we planted the seeds
There is a tree as old as me
Branches were sewn by the color of green
Ground had arose and passed it's knees

By the cracks of the skin I climbed to the top
I climbed the tree to see the world
When the gusts came around to blow me down
I held on as tightly as you held onto me
I held on as tightly as you held onto me......


Cause, I built a home
for you
for me

Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust........

Wednesday, November 10, 2010

O meu filho tem 20 anos e uma vida interminável. Tem olhos azuis como certas manhãs de Outono e o cabelo negro e encrespado como as serras de onde vim.
O meu filho gosta das rugas e das manchas das minhas mãos e do cheiro a lixívia e a pão da minha pele. O meu filho tem olhos azuis e não sei onde terá ido buscá-los, os meus são escuros, desbotados do tempo e do choro. Os do pai não os recordo (ou não quero), sei apenas que eram fundos como poços na sombra espessa das pestanas.
Quando o meu filho era pequeno, ria muito alto, sentava-se nos bancos da cozinha e não chegava com os pés ao chão, comia com uma colher na mão esquerda, um grande guardanapo branco atado ao pescoço, os pés baloiçando a um palmo da realidade, o olhar preso às grinaldas de frutas e flores dos azulejos,
Em que pensas, meu filho?
Sorria sem responder; nunca percebi o que lhe ia na cabeça, como agora também não percebo.
O meu filho cresceu com todos os sonhos e desejos e vontades dos homens dentro dele. Criou laços. Esperou. Amou e foi amado. Desenhou na pele linhas negras que formam desenhos misteriosos e que se parecem com as grinaldas de frutas e flores dos azulejos no interior do braço, nas costas, no tornozelo.
O meu filho cometeu erros: roubou, violou, matou, ludibriou. Porque queria sempre mais e por ser um Homem. Foi apanhado, foi julgado nas salas dos tribunais dos homens, foi encarcerado e as minhas lágrimas não comoveram ninguém.
Quando o levaram perdeu os amigos, o amor, o trabalho, as frutas e as flores e o cheiro da lixívia e do pão. Os pés sempre no chão, come com a faca à direita, o garfo à esquerda, não há desenhos nos azulejos da prisão, conforme não há sonhos nem laços.
Vou todas as semanas ver o meu filho. O meu filho que roubou, violou, matou, ludibriou. Mas que é meu: pari-o com a força e os gritos e a dor da verdade, tomei nas minhas mãos o seu corpo coberto ainda da lama do meu sangue. Olhei-o nos olhos quando não tinham cor nenhuma. E o meu filho beija-me e encosta a face à prata dos meus cabelos¬: os meus pés a um palmo da realidade, o cheiro das frutas e das flores das grinaldas nas mãos apertadas. Levo-lhe as coisas que mais gosta de comer, e notícias de quem continuou a vida sem ele, e desenhamos no calendário uma cruz: menos um dia para que o meu filho regresse aos bancos da minha cozinha.
Ontem tocou o telefone. Era para me informar que foram encontrar o meu filho com os olhos fixos nos azulejos da cela, onde colava fotografias de frutas e flores nuas, tinha um sorriso que não dizia nada acima do lençol branco que atou ao pescoço, e os pés a baloiçar a um palmo da realidade.

Saturday, November 6, 2010

Ausência

Helena Abreu

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade