Sunday, January 30, 2011

let's look at the trailer

Há anos à espera de mais outra pérola dessa ostra chamada Iñarritu. Cá está ela. Redonda, nacarada. E com o Javier Bardem lá dentro. Mal posso esperar para ver.


fechada no quarto

à conversa com o Jeff. a voz dele entra-me pelos poros e é maravilhoso e assustador. o escuro é tudo o que me apetece, enquanto espero no fogo.

Saturday, January 29, 2011

um sábado à tarde em 1996

Em 1996 eu ainda tinha dentes de leite a querer cair. E a minha ocupação principal dos sábados à tarde era ouvir música. Só. Sem fazer mais nada. Por essa altura acabou-se o reinado do "Best of Jimi Hendrix" a tocar ininterruptamente no leitor de CD's do meu irmão, porque eu tinha recebido, no Natal, o meu primeiro CD: "Jagged Little Pill", da Alanis Morissette. Lembro-me desse presente com mais nitidez do que de qualquer outro porque, dos dois pedidos que alguma vez fiz aos meus pais de presentes de Natal, foi o único que eles me satisfizeram. O outro foi uma pista de carros (vivo até hoje traumatizada).
O álbum trazia uma coisa absolutamente fantástica: o livrinho com as letras das canções. Em boa hora. Em 1996, e graças à Alanis, melhorei substancialmente o meu Inglês. E tudo porque arranjei um caderninho onde, com muita paciência, ía traduzindo, com a ajuda do dicionário, a letra de cada canção. Se os meus pais soubessem as ideias que esse álbum trazia dentro, ter-me-íam dado a pista de carros dos meus sonhos.
E devo acrescentar que, ainda hoje, acho que não há uma única faixa do álbum que não seja excelente.






fim de semana e do estado febril

estou... contente!!

Friday, January 28, 2011

estado febril


Só Matisse poderia retratar-me com todas as cores da febre.

Wednesday, January 26, 2011

Dia mau

A Ordem dos Advogados não me admitiu a exame. E mandou-me uma cartinha para me dizer que tenho 15 dias para reformular a minha apresentação de tema de discussão oral. A Ordem dos Advogados deveria ter recusado a minha inscrição. E a Faculdade de Direito nunca deveria ter-me deixado entrar. Juntas, teriam poupado oito anos da minha vida.
Vontade de reformular o trabalho alterando o tema para: "Da criminalização de actos administrativos responsáveis pela desgraça da vida do cidadão ou como a OA me f*#&%$ a vida".

sonho de uma noite de inverno ou as portas fechadas

Corri para chegar a ti. Saltei todos os muros, arrombei todas as portas, percorri em pânico escadarias labirínticas. Sabia que me esperavas e não podia atrasar-me. Mas tudo eram obstáculos. Tantas pessoas se atravessaram no meu caminho: seguraram-me, atrasaram-me, tentaram distrair-me, demover-me. Eu não quis ver ninguém, quis-te a ti e corri corri sempre. Não cheguei. Acordei. Porque te ouvi chamar-me pelo nome e sussurrar: estou aqui.

Tuesday, January 25, 2011

Brincadeira

(Man Ray)


O meu corpo O teu corpo
O meu corpo e o teu corpo
Corpoacorpo
O meu corpo é o teu corpo
Os Corpos
Um Corpo
O Arrepio

Sunday, January 23, 2011

the eternal sunshine of you in my mind

E se um louco quisesse apagar-te da minha memória? Morreria a tentar, sem nunca conseguir...

Saturday, January 22, 2011

Estou outra vez

a atravessar um dia muito escuro. E não há nem uma palavra em parto difícil. Nem masturbação intelectual que me valha.

Friday, January 21, 2011

Purificação

Vivia numa quinta por cima da dos meus avós. Sempre lá viveu e continua a viver, até hoje. Mesmo que já não em forma de pessoa, mas de chão ou arbusto ou rochedo. Era uma mulher maciça mas ágil, tinha a compleição forte de quem arrancou à terra tudo o que precisou para viver e no rosto as marcas do nascer do sol e de uma sabedoria ancestral, que transcendia tudo. Conhecia a lua e as suas influências, parecia capaz de falar com os animais e as curvas dos caminhos, foi ela quem me ensinou que os lagartos subiriam um dia pelas minhas pernas, sedentos de sangue, sabia histórias verdadeiras de bruxas e almas e gente boa que era ponte entre este mundo e o outro, e a voz dela continha serra, rochas, neve, rosmaninho e figos maduros. Um dia, vendo-me comer deliciada um queijo fresco, declarou-me que o tinha feito com as mãos cheias de sangue. E era verdade, como tudo nela. Sangue e coração e afecto e flor de cardo, à mistura com o leite, a escorrer com o soro pelos orifícios do acincho.

Mas o que recordo com mais saudade foi o dia em que, pela festa de Setembro, Purificação foi à quinta da minha avó bater os bolos. Quilos de massa num alguidar de esmalte, a exigir a mesma força que é precisa para cavar a terra pedregosa daquele chão avarento. E as mãos dela lá dentro, fortes, quadradas, cheias de sulcos negros. Nada mais limpo e mais puro. O negro da terra já fazia parte dela, não sairia nunca. Purificação transformava-se já em chão, arbusto, rochedo. O sangue de que tinha as mãos cheias era o mesmo que o que escorria das cabras quando as matavam, ou o que escorria dos pinheiros quando lhes golpeavam o tronco, ou o que me escorria pelas pernas, ou o que escorria pelas entranhas da serra e o povo bebia das fontes e das minas e matava a sede dos animais e fazia crescer as plantas.

Nesse Setembro, foi tudo diferente. Entendi a Purificação.

sinais de fumo

Pablo Neruda, o poeta que conheceu a Patagónia, escreveu sobre o "Tédio":

Ir levando no caminho os amores perdidos
e os sonhos idos
e os fatais sinais do olvido.

Ir seguindo na dúvida das horas apagadas,
pensando que todas as coisas se tornaram amargas
para alongarmos mais a via dolorosa.

E sempre, sempre, sempre recordar a fragrância
das horas que passam sem dúvidas e sem ânsias
e que deixamos longe na estéril errância.


Pablo Neruda, in Cadernos de Temuco

Thursday, January 20, 2011

As horas arrastam-se e não faz diferença se chove ou faz sol, ou o azul do rio parece irreal, lá no fundo, e as núvens por cima da serra brinquedos de criança. Daqui a pouco a luz escorrerá cada vez mais depressa da face escalavrada dos prédios, revelando a escuridão parda por baixo de tudo, conforme escorre de mim a memória luminosa dos teus dias, para revelar a minha solidão, sob uma lua cheia de cio num céu cheio de arestas.

Tuesday, January 18, 2011

Hoje é um dia feliz...

...porque o Zé vai viver para Paris!

Só para toi:

Monday, January 17, 2011

em tédio mode

Como transformar o tédio em dolce fare niente:

vela aromática;
lasanha pré-cozinhada;
tinto alentejano Reserva 2006;
mousse de ananás instantânea;
mini tostas com maionese e salmão fumado;
filme italiano em dvd;
gata massajadora com vibração ocasional.

Saturday, January 15, 2011

it had to be you...

Constelações


Contar estrelas pode fazer crescer cravos nos dedos, bolinhas de carne tão difíceis de arrancar depois, e para além disso, as estrelas fugidias, a gozar comigo: já me contaste, afinal não, agora mudei de sítio, sou uma estrela ou um avião a caminho de um sítio qualquer com gente dentro? Eu: vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove. E elas: trinta e dois, cem, quinze, nebulosa. E eu perdida, a examinar os dedos onde não cresciam cravos, apesar de contarem estrelas. Continuo a olhar para elas, hoje que não sou criança, afinal sou, apenas mudei de sítio, não conto estrelas, mas conto sóis que se põem, pendurados nas núvens verdes que se estendem em socalcos até ao rio, e conto beijos que nascem dos teus lábios, espalhados pelo meu corpo, trinta e dois, cem, quinze, nebulosa, constelação. Uma Ursa Maior com a Polar na minha boca. Cravos a crescerem-me por dentro, vermelhos e brancos, não dos de carne, flores que custam tanto a arrancar e te ofereço no colo.

Thursday, January 13, 2011

eu achava que não iria falar neste assunto, mas...

...apetece-me perguntar: se em vez de ser um jovem modelo de 21 anos a assassinar barbaramente um homem consideravelmente mais velho e homossexual, com quem mantinha uma relação com o intuito de ter vantagens de carreira, fosse uma jovem mulher de 21 anos a assassinar barbaramente um homem consideravelmente mais velho e heterossexual, com quem mantinha uma relação com o intuito de ter vantagens de carreira, ela seria uma vítima ingénua com direito a defesa e a grupos de apoio, ou seria só mais uma puta oportunista, maquiavélica e assassina?

Tuesday, January 11, 2011

TPC

A minha prima Joana tem uma cadeira na faculdade que se chama "escrita criativa". E tem que fazer exercícios tão espetaculares que é difícil resistir à vontade de lhe fazer os trabalhos de casa. Como este, de criar uma história a partir de uma das personagens deste vídeo (que nem é dos meus preferidos, nem nada...)




Posso ir ao quadro?

Saturday, January 8, 2011

A minha casa tem duas janelas viradas a sul, com um mar de inverno por dentro que às vezes faz estremecer as vidraças e assusta. Quando o mar se acalma, e fica a sussurrar no rés-do-chão, senta-se às janelas um gato com os olhos rasgados de desejo de rua. Uma janela entreaberta seria o suficiente para o gato saltar e se perder nela.
Na minha casa não há relógios nem calendários. Cada segundo conta para o que não interessa, e é verão à noite, e amanhecem primaveras, e o outono deixa ouro coagulado no soalho, e é inverno no mar. Às vezes planto girassóis estridentes no jardim, outras aparecem, espontâneas, flores lilazes que levo à boca para me alimentar.
A minha casa existe mais quando estou longe. Porque quando estou perto ela é casa, é toca, é ninho, é colo. E eu deixo simplesmente de pensar.

Friday, January 7, 2011

às vezes,


em certas circunstâncias, sinto-me EPIFANOFÓBICA.

Saturday, January 1, 2011

revelhão

passar a meia noite com o auto-rádio aos berros, na beira de uma estrada qualquer em Mira, a caminho da Vagueira, com 2 copos roubados e uma garrafa de espumante quente a dizer "amo-te" no rótulo, só pode ser bom sinal! E, afinal...



ÓL AI UANA DU IZZ ÉVE SAM FAAANNN!!!