Wednesday, December 29, 2010

demasiado bom




Bien sûr, nous eûmes des orages
Vingt ans d'amour, c'est l'amour fol
Mille fois tu pris ton bagage
Mille fois je pris mon envol
Et chaque meuble se souvient
Dans cette chambre sans berceau
Des éclats des vieilles tempêtes
Plus rien ne ressemblait à rien
Tu avais perdu le goût de l'eau
Et moi celui de la conquête

Mais mon amour
Mon doux, mon tendre, mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore, tu sais, je t'aime

Moi, je sais tous tes sortilèges
Tu sais tous mes envoûtements
Tu m'as gardé de pièges en pièges
Je t'ai perdue de temps en temps
Bien sûr tu pris quelques amants
Il fallait bien passer le temps
Il faut bien que le corps exulte
Finalement, finalement
Il nous fallut bien du talent
Pour être vieux sans être adultes

Oh, mon amour
Mon doux, mon tendre, mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore, tu sais, je t'aime

Et plus le temps nous fait cortège
Et plus le temps nous fait tourment
Mais n'est-ce pas le pire piège
Que vivre en paix pour des amants
Bien sûr tu pleures un peu moins tôt
Je me déchire un peu plus tard
Nous protégeons moins nos mystères
On laisse moins faire le hasard
On se méfie du fil de l'eau
Mais c'est toujours la tendre guerre

Oh, mon amour...
Mon doux, mon tendre, mon merveilleux amour
De l'aube claire jusqu'à la fin du jour
Je t'aime encore, tu sais, je t'aime.

então mas esta agora é só francius?

perguntam vocês, gatos-pingados leitores. Pois, digo eu. Estou a atravessar uma fase francesa. Já passei por tantas: a do grunge, a do jazz, a da intervenção, a do fado de Coimbra, a da Winehouse. Umas testemunharam-nas, outras não. Agora estou na fase francesa, embora ainda não a fundo: ouço Piaff e Brel, mas apenas porque fico extasiada com a intensidade dela e com a poesia dele. Continuo sem saber falar francês, por exemplo, agora gostaria de dizer que a minha gata está a disputar o meu colo com o portátil e não me deixa escrever em sossego, em francês, mas sai-me algo como: ma chatte est en conflit avec mon ordinateur et ne me laisse pas ecrire en paix, o que, de certeza, não está correcto.
(Pelo menos já não estou naquela fase que durou cerca de 10m da noite de 25 de Dezembro que consistiu em traduzir as palavras dos outros para inglês macarrónico. "tem dois furões", dizia a Gina, "two furonssss...*hic*" dizia eu. "Marta, para com isso", dizia o Zé, "Marta, stop det!*hic*".)
E uma vez que estou a entrar na fase francesa, as minhas résolutions pour la nouvelle année sont:
1. suivre un cours en français;
2.voir les films français suivants:
2.1. Les petits mouchoirs;
2.2. L'homme qui voulait vivre sa vie;
3. aller à Paris avec Joseph et Christine;
4.cesser d'utiliser le traducteur de Google.
PS: Pena que ninguém possa ouvir como fico sexy a tentar pronunciar isto...

a multidão ou outra coisa qualquer

Monday, December 27, 2010

hymn a l'amour

... peu m'importent les problèmes, mon amour, puisque tu m'aimes...

Saturday, December 25, 2010

Natal

celebro o nascimento de todos os meninos divinos feitos Homem: esse que nasceu há 2010 anos, ou há 26 anos, e 30 e 49 e 75. celebro os deuses que tenho na minha vida, recordo os que já tive e que vivem agora na minha memória, deixaram uma ausência cheia de recordações maravilhosas: os olhos azuis quase cegos da minha avó, as mãos genesíacas do meu avô, a minha bisavó a recitar a "Nau Catrineta", havia mais de ano e dia que andavam na volta do mar, e os olhos dela um brilho, não sei se com pena dos marujos, forçados a comer sola, se ela própria com fome de outro público que não uma bisneta_"outra vez!"_ em vez de palmas, a brincar com uma nau catrineta feita de fósforos e velas de papel.
desembrulho pequenos momentos como presentes, a minha avó na cozinha, ao cimo das escadas, o cabelo ainda louro nas pontas, branco nas raízes, o meu nome tão bonito no canto da voz dela. Não os perdi não os perdi não os perdi.
E hoje outras vozes, outros olhos, o meu nome tão bonito no canto da tua voz, se estivesses na cozinha ao cimo das escadas abraçava-te, se existisse Deus ajoelhava-me, juntava as mãos, fechava os olhos e agradecia...

Thursday, December 23, 2010

I'll be around...

...with my undying death-defying love for you

Saturday, December 18, 2010

o poema que eu teria escrito, se soubesse




Ne me quitte pas, il faut oublier
Tout peut s’oublier qui s’enfuit déjà
Oublier le temps des malentendus
Et le temps perdu à savoir comment
Oublier ces heures qui tuaient parfois
A coups de pourquoi le coeur du bonheur
Ne me quitte pas, ne me quitte pas,
ne me quitte pas

Moi, je t’offrirai des perles de pluie
Venues de pays où il ne pleut pas
Je creuserai la terre, jusqu’ après ma mort
Pour couvrir ton corps d’or et de lumière
Je ferai un domaine où l’amour sera roi
Où l’amour sera loi, où tu seras reine

Ne me quitte pas, ne me quitte pas,
ne me quitte pas

Ne me quitte pas, je t’inventerai
Des mots insensés que tu comprendras

Je te parlerai de ces amants là
Qui ont vu deux fois leurs coeurs s’embraser
Je te raconterai l’histoire de ce roi
Mort de n’avoir pas pu te rencontrer
Ne me quitte pas, ne me quitte pas,
ne me quitte pas

On a vu souvent rejaillir le feuDe l’ancien volcan
qu’on croyait trop vieux
Il est parait-il des terres brûlées
Donnant plus de blé qu’un meilleur avril
Et quand vient le soir pour qu’un ciel flamboie
Le rouge et le noir ne s’épousent-ils pas?
Ne me quitte pas, ne me quitte pas,
ne me quitte pas

Ne me quitte pas je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler, je me cacherai là
A te regarder danser et sourire
Et à t’écouter chanter et puis rire
Laisse-moi devenir l’ombre de ton ombre
L’ombre de ta main, l’ombre de ton chien
Ne me quitte pas, ne me quitte pas,
ne me quitte pas

Friday, December 17, 2010

nas minhas mãos

O desejo todo concentrado nas minhas mãos
unhas tendões nervos falanges pele gelada
transpirada.
Seguro um cálice na mão e esmigalho-o
sob a força dos dedos os vidros enterrando-se na carne,
um prazer lancinante a lembrar-me o teu corpo
_o meu corpo
árvore no claustro dos teus braços, arcadas de abrigo,
eu árvore encarcerada, enraizada,
o teu nome inteiro escrito a golpes de navalha no tronco,
e a seiva que escorre de mim perfumada
mel na tua língua.

Sunday, December 12, 2010

na parede

(Foto de Carla Alves)

Tuesday, December 7, 2010

rua

Sou uma rua com chuva por dentro. Fria e cinzenta, de janelas fechadas e braços abertos a quem não vem. Amontoei pelas bermas folhas vermelhas de verões à sombra gentil de mãos dadas como ramos, varridas agora por um vento gelado que fechou as janelas e chamou a noite e impede a chuva de sair de mim. Não há flores nos vasos das janelas fechadas, olhos trémulos a escorrer olheiras. Um golpe de sol e talvez a gota rubra de uma sardinheira a aparecer junto a uma porta. Mas a primavera não chega nunca, por mais que a deseje e reze por ela prostrada abaixo do chão, e doem-me os passos de quem me atravessa a correr para chegar ao calor da casa. Que eu não fui feita para ser atravessada em pressas distraídas. Houvesse quem quisesse deter os passos em mim, bater às portas, abrir as janelas, encher-me de um sorriso, descobrir que o amanhecer me deixa púrpura, plantar flores nos vasos esventrando a terra húmida com as mãos. Descobriria talvez que fui feita para se viver dentro.

Monday, December 6, 2010

E o vencedor é...

"More than words" é a musiquinha vencedora da sondagem do mês. Obrigada a todos os que votaram.

Zé, votaste várias vezes, não foi?

Sunday, December 5, 2010

Thursday, December 2, 2010

Negação

Deixei de acreditar num Deus e às vezes dói tanto essa falta de fé... Porque admitir a inexistência de Deus é admitir que estamos sozinhos e, se estamos sozinhos, somos tão livres quanto responsáveis e tão nós-mesmos quanto desamparados. E hoje senti-me desamparada e sozinha, sem ninguém a quem pedir só um bocadinho de força para enfrentar o medo terrível de uma perda irremediável.

Tuesday, November 30, 2010

amor no sangue

Pudesse eu rasgar as veias, pôr o coração a bater fora de mim: reconstruir-te de amor.

Monday, November 29, 2010

Sondagem do mês

Esta vai para todos os que namoravam em veículos cujas letras da matrícula apareciam antes dos números, com o auto-rádio sintonizado no Oceano Pacífico ou a ler cassetes especificamente gravadas para esse fim, em pinhais/eucaliptais/descampados/Serra da Boa Viagem. Qual a melhor música para "curtir", na década de 90?










Saturday, November 20, 2010

A voz do povinho

Andar de autocarro tem as suas vantagens, e uma delas é assistir a comentários políticos mais bem informados, fundamentados e eloquentemente proferidos do que os de qualquer analista ou opinion maker famoso.
O dia de ontem foi marcado pela cimeira da NATO e, quanto a isso, dizia uma senhora comentadora (70 anos, mise cinzenta, voz forte projectada até aos últimos bancos):
Esses da cimeira andam-nos a comer tudo e nós a ver! P'ra ser bem, era uma granada _ Buuuuumm!_ no meio deles todos, que lhes arrebentasse aquele cu! Todos prá puta que os pariu, masé! Que nisto, o único que se aproveita inda é o Obama. Esse, se quisesse, tinha cá cama, mesa e roupa lavada, e se casasse comigo ainda tinha direito a sexo, que eu mesmo com 71 ano ainda a tenho no sítio.
Isto agora é só bandalhos! Porque nas escolas, na vez de ler e escrever, agora ensinam é sexo! É só sexo, hão-de ser todas umas putas. Se bem que, com a crise que vai, nem as putas se safam!
Não conseguem imaginar o que me custou sair na minha paragem, bem a meio do programa. O Obama devia ter marcado encontro com ela, para um almoço de trabalho de arroz de feijão e pataniscas, bem regado de carrascão e levar de souvenir uma peça de louça das Caldas, para pôr em cima da lareira da Casa Branca. Aposto que pensaria seriamente em mudar-se para cá.

Friday, November 19, 2010

Tuesday, November 16, 2010

Nostalgias animadas

Os desenhos animados fazem parte da infância de toda a gente. E eu sou das que tem muitas saudades das tardes de inverno frente à TV a comer pão com marmelada e a ver os "bonecos". E se tivesse que fazer um top 5...












E vocês? De qual gostavam mais?
"Diz-se que a morte embeleza aqueles que fulmina e exagera as suas virtudes, mas no geral era a vida que não os favorecia. A morte, essa piedosa e irrepreensível testemunha, ensina-nos, segundo a verdade, segundo a caridade, que em cada homem há habitualmente mais bem do que mal."
Michelet

Monday, November 15, 2010

Olá, sou a nova vizinha do segundo!


Mudei de casa. A bem da independência pessoal, sanidade mental e relações familiares entre os meus primos caloiros e eu.


O prédio onde vivia tinha 9 andares com 4 apartamentos cada um. O actual tem 4 andares com 3 apartamentos cada e é desprovido de elevador (alguém se oferece para me ajudar a mudar o sofá?).


Descobri que viver num bairro-dormitório em Coimbra é muito diferente de viver nesta aldeia à porta da cidade. Até agora, a última parece-me melhor: vistas de luxo para o luxo, pastelaria, mini-mercado, loja de ferragens e cabeleireiro pertíssimo, excelente isolamento acústico. Ausência de bandas de garagem e afins e, até ver, ausência de senhoras do círculo de leitores, comerciais das tv's por cabo, testemunhas de jeová e outros que costumam bater-nos à porta precisamente quando estamos a pintar as unhas dos pés, de roupão, com creme descolorante no buço e cabelo desgrenhado.


Mas as odisseias com os vizinhos continuam. E se no anterior apartamento o problema era a escassez de isolamento de som, aqui é a escassez de lugares de estacionamento: logo na primeira semana, cometi o erro crasso de estacionar o bólide frente a uma das garagens do prédio. Era para ser só por 5 minutos, mas adormeci e acordei meia hora depois, com buzinadelas frenéticas e a campaínha da porta a tocar como se houvesse um incêndio: tive que encarar, de olhos remelosos, a cara furiosa do dono da garagem, que é desses sujeitinhos que penduram as meias na corda por degradé de cores, e pedir mil desculpas, enquanto tentava recuar, com as lentes de contacto secas.


Depois, começamos a estacionar num excelente lugarzinho que (aparentemente) não incomodava ninguém, entre um carro sem rodas coberto por um toldo e um renault clio velho com todos os pneus furados. E os nossos carros começaram a aparecer "trancados" por este último. Sem que ninguém se apercebesse, o dono fazia-o descair para nos impedir de sair dali. Com manobras de génio e alguns toques no carro dele, sempre conseguimos contornar o obstáculo. Até sábado...


Furiosas, em cima da hora para ir trabalhar, vai de buzinar até que o polegar nos doa. Aparece a vizinha do quarto, vociferando que não-sei-quem estava convencido que aquilo era tudo dele e que tinha a mania de trancar tudo quanto era veículo e que até já havia queixa na polícia municipal. Que vivia no prédio do mini-mercado e toda a gente sabia quem ele era. Eu, de cabelos em pé, decidi logo chamar a polícia com um reboque, mas a Cláudia, mais sensata e pacífica, achou melhor tentarmos encontrar o homem para falar civilizadamente. Depressa percebi que a situação não era nova, porque toda a gente no mini-mercado sabia bem de quem é que eu andava à procura. Porém, informaram-me que sim, senhor, o homem arrenda o espaço todo e que se ele já nos tinha trancado o carro, não tínhamos nada que o lá deixar. Retorqui que eu não adivinho que contratos de arrendamento é que ele tem, que sem placa de "parque privado" eu deixo lá quantos carros quiser, e que vou chamar já a polícia.

Claro que, já depois de eu ter apanhado outra boleia para ir trabalhar, aparece o homenzinho, na sua motoreta, vindo de um tasco qualquer com um bafo bastante esclarecedor e que talvez tenha sido a causa de ele se espetar de mota contra o portão da própria garagem. Vinha indignadíssimo, que não tirava o carro não senhora! Isto é tudo meu e o camandro, e não sei como tiraram daqui o carro das outras vezes, e a polícia, e Pombal e Castelo Branco, uma salganhada. A Cláudia lá optou por conversar com os filhos do homem, sóbrios e sensatos, que acabaram por tirar o carro. Chegou a polícia e não foi preciso sair da sua viatura branca e azul. E o vizinho continua sem lá pôr a placa de "Parque Privado"...

Sunday, November 14, 2010

I don't feel alone I don't feel alone I don't feel alone I don't feel alone I don't feel



There is a house built out of stone
Wooden floors, walls and window sills...
Tables and chairs worn by all of the dust..
This is a place where I don't feel alone
This is a place where I feel at home.......


Cause, I built a home
for you
for me

Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust........




Out in the garden where we planted the seeds
There is a tree as old as me
Branches were sewn by the color of green
Ground had arose and passed it's knees

By the cracks of the skin I climbed to the top
I climbed the tree to see the world
When the gusts came around to blow me down
I held on as tightly as you held onto me
I held on as tightly as you held onto me......


Cause, I built a home
for you
for me

Until it disappeared
from me
from you

And now, it's time to leave and turn to dust........

Wednesday, November 10, 2010

O meu filho tem 20 anos e uma vida interminável. Tem olhos azuis como certas manhãs de Outono e o cabelo negro e encrespado como as serras de onde vim.
O meu filho gosta das rugas e das manchas das minhas mãos e do cheiro a lixívia e a pão da minha pele. O meu filho tem olhos azuis e não sei onde terá ido buscá-los, os meus são escuros, desbotados do tempo e do choro. Os do pai não os recordo (ou não quero), sei apenas que eram fundos como poços na sombra espessa das pestanas.
Quando o meu filho era pequeno, ria muito alto, sentava-se nos bancos da cozinha e não chegava com os pés ao chão, comia com uma colher na mão esquerda, um grande guardanapo branco atado ao pescoço, os pés baloiçando a um palmo da realidade, o olhar preso às grinaldas de frutas e flores dos azulejos,
Em que pensas, meu filho?
Sorria sem responder; nunca percebi o que lhe ia na cabeça, como agora também não percebo.
O meu filho cresceu com todos os sonhos e desejos e vontades dos homens dentro dele. Criou laços. Esperou. Amou e foi amado. Desenhou na pele linhas negras que formam desenhos misteriosos e que se parecem com as grinaldas de frutas e flores dos azulejos no interior do braço, nas costas, no tornozelo.
O meu filho cometeu erros: roubou, violou, matou, ludibriou. Porque queria sempre mais e por ser um Homem. Foi apanhado, foi julgado nas salas dos tribunais dos homens, foi encarcerado e as minhas lágrimas não comoveram ninguém.
Quando o levaram perdeu os amigos, o amor, o trabalho, as frutas e as flores e o cheiro da lixívia e do pão. Os pés sempre no chão, come com a faca à direita, o garfo à esquerda, não há desenhos nos azulejos da prisão, conforme não há sonhos nem laços.
Vou todas as semanas ver o meu filho. O meu filho que roubou, violou, matou, ludibriou. Mas que é meu: pari-o com a força e os gritos e a dor da verdade, tomei nas minhas mãos o seu corpo coberto ainda da lama do meu sangue. Olhei-o nos olhos quando não tinham cor nenhuma. E o meu filho beija-me e encosta a face à prata dos meus cabelos¬: os meus pés a um palmo da realidade, o cheiro das frutas e das flores das grinaldas nas mãos apertadas. Levo-lhe as coisas que mais gosta de comer, e notícias de quem continuou a vida sem ele, e desenhamos no calendário uma cruz: menos um dia para que o meu filho regresse aos bancos da minha cozinha.
Ontem tocou o telefone. Era para me informar que foram encontrar o meu filho com os olhos fixos nos azulejos da cela, onde colava fotografias de frutas e flores nuas, tinha um sorriso que não dizia nada acima do lençol branco que atou ao pescoço, e os pés a baloiçar a um palmo da realidade.

Saturday, November 6, 2010

Ausência

Helena Abreu

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade

Sunday, October 17, 2010

dormente

incapaz de pensar. transbordei e agora tenho tudo espalhado misturado perdido pelo chão. não sei de quanto tempo precisarei para reordenar as peças todas. ainda hão-se faltar algumas. se ao menos não comesse letras enaqunto escrevo.

Thursday, September 30, 2010

Wednesday, September 29, 2010

ausência

tenho andado arredada, bem sei. ausente do blog, do msn, do facebook. é quase o equivalente a estar morta. e é bom saber que nos vão sentindo a falta. principalmente quando o limbo sem internet onde estamos tem mar, sol, gaivotas e um imenso silêncio.

Sunday, September 19, 2010

confissão

( Seidel)

por muito que não queira, por muito que evite, por muito que racionalize e as saiba doentias, por muito que defenda o seu fim... às vezes dou por mim a ver touradas. atirem-me as pedras que quiserem: eu mereço.

Thursday, September 16, 2010

viagens

Gosto da verde afirmação categórica das árvores no meio do tédio de ouro dos arrozais.

Tuesday, September 14, 2010

Sunday, September 12, 2010

Pérolas (re)encontradas

As primeiras páginas que usei para escrever foram as de um diário. Ainda não tinha feito 7 anos e continuei a usá-lo por muito tempo. À mistura com as confissões ridículas do costume, encontrei um conto que nunca cheguei a terminar. Quando o escrevi tinha 10 anos e, felizmente, o que me sobrava em imaginação faltava-me em sentido auto-crítico. Transcrevo-o tal como está (os erros são os do original).
"No tempo em que os animais falavam davam-se estranhos acontecimentos que vale a pena contar.
No Vale Feliz todos os animais se davam bem. As casas eram feitas de doces, as escolas mais divertidas.
O Vale Feliz era um estranho lugarejo esquecido.
Mas vamos à história.
Bem no centro da aldeia havia uma casa muito grande, mas apenas se conservava o seu interior. Era uma casa velha, o jardim era uma selva, excepto um grande castanheiro que permanecia ali dando beleza àquele lugar.
O Nico e a Mariana eram dois irmãos gatinhos, muito amigos. Como não tinham nada que fazer no Verão, decidiram espreitar o quintal da velha casa.
Os dois entraram bem devagar e correram até ao castanheiro.
_Olha, Nico! Este ramo dá para fazer um baloiço formidável!
_É uma boa ideia. Vou já à garagem do pai! _ disse o Nico, correndo até lá.
Pegou numa tábua e numa grossa corda e voltou ao local.
Os dois trabalharam no baloiço e quando ficou pronto, ouviu-se uma voz:
_Qui! Qui! Que fazem aqui?
Ao princípio não ligaram e julgaram ser o vento, mas depois prestaram atenção...
_Qui! Qui! Que fazem aqui? _ disse uma barata, vestida de preto, que saiu da casa.
Os dois correram e esconderam-se na loja de gelados.
A velha barata voltou para dentro.
_ Mas que monstro! _ exclamou a Mariana.
Nico concordou:
_Sim, mas eu acho que aquele baloiço é mágico! _ olhando para o baloiço que agora estava rodeado de estrelas.
_Foi a fada Íris! _ respondeu Mariana encantada _ Vamos lá de novo!
_Está bem.
Os dois pularam o velho muro e aproximaram-se.
O baloiço parecia gritar:
_"Sentem-se! Sentem-se!"
_Vou experimentá-lo _ resolveu o Nico.
Montou o baloiço e balançou-se.
De repente subiu no ar e desapareceu.
_Espera! Eu quero ir aí! _ gritou Mariana e seguiu o exemplo. Encontrou então o irmão e um mundo mágico.
Parecia uma feira! Uma feira diferente. Numa barraca amarela e verde uma cadelinha oferecia a todos pipocas. O ursinho Kevin vendia balões coloridos e uma minhoca oferecia gelados deliciosos. Os carroceis eram só para eles. Não havia mais pessoas ali.
Depois do divertimento, uma fada humana vestida de arco-íris disse:
_Voltem já para baixo. A única saída é por ali. _ aconselhou ela apontando um alçapão no meio das nuvens.
Eles seguiram por ali e caíram na sua cadeira à mesa. Já havia escurecido e os pais aguardavam."

Friday, September 10, 2010

No meu tempo...

...bom era faltar às aulas sem os pais saberem. Hoje, há-de haver quem tente ir às aulas às escondidas dos pais. Afinal... Que maravilhas se esconderão nessas aulas de educação sexual a que os pais proibem os filhos de assistir?

Sunday, September 5, 2010

Facto


As árvores são mais altas no nevoeiro.

metáforas

Quem escreve diz que as ondas da maré vaza desaguam nas algas como beijos sonolentos, ou que a mão das núvens percorre o corpo da areia, adormecido entre lençóis de cardos. Se falasse de beijos, diria que são sonolentos como ondas da maré vaza desaguando nas algas. E se falasse de um corpo acariciado entre lençóis, diria que é de areia branca, e os lençóis cardos, e a mão sombra rápida de núvens.
Quem escreve, às vezes, rasga com palavras fáceis silêncios intraduzíveis.

Wednesday, September 1, 2010

Oferece-se emprego

Quem se licenciou há pouco tempo sabe bem como visitar os sites de emprego se transforma num ritual diário. Começamos por reduzir as pesquisas às ofertas relativas à nossa área, mas rapidamente começamos a perceber que o melhor é sujeitarmo-nos a outras oportunidades, por muito diferentes daquilo que queremos e muito abaixo das nossas qualificações.
E quando nos deparamos com uma empresa que precisa contratar um licenciado em direito, a quem exige experiência profissional, disponibilidade imediata e os requisitos do costume e se propõe pagar-lhe a fantástica quantia que é o ordenado mínimo nacional, pensamos: mas porque raio não fui para cabeleireira?

Tuesday, August 31, 2010

Já alguma vez vos tinha dito

... que há músicas que são duches de água fria numa mente queimada? Não faz mal. Digo outra vez: há músicas que são duches de água fria numa mente queimada.E é Sigur Ros outra vez.

Friday, August 27, 2010

Carlos...

... é o único homem a quem ainda permito que me faça chorar. E dos muito poucos que mantêm essa capacidade.


Wednesday, August 25, 2010

Tuesday, August 24, 2010

Outono/Inverno 2010-2011

Folheava eu o site da Vogue para me inteirar das tendências da moda deste Inverno(trabalhinho de casa), quando me deparo com fotos dos desfiles da Calvin Klein. Não vou falar da roupa, porque é horrivel. Mas pior que a roupa, são as modelos: já vi toxicodependentes a arrumar carros com muito melhor aspecto. É aquilo, o conceito de "beleza"? O tema da colecção será a exumação de cadáveres? O que comeram as manequins no último mês? Um cournichon?
Quando dizem que a moda não é responsável pelos distúrbios alimentares nos jovens, eu quase consigo acreditar: ninguém no seu perfeito juízo pode querer ficar parecido com isto...

Sunday, August 22, 2010

Crítica da euforia

Eu já sei que vou ser mal interpretada, mas paciência.
Não gostando de generalizar e ainda menos de não gostar de quem não conheço baseada num factor como, por exemplo, o país de origem, assumo que, demasiadas vezes, os brasileiros me causam uma certa irritação.
Ainda ontem, um grupo de quatro brasileiras conseguiu pôr-me os nervos em franja, pelo simples facto de parecerem um bando de araras com o cio, a tagarelar a uma velocidade extraordinária e em gargalhadas a decibéis muito acima do permitido por lei. E sempre com aquela entoação eufórica que o português só tem quando ganha o euromilhões ou a selecção nacional ganha qualquer coisa importante.
O que me deixou a pensar: afinal, o que é que me irrita tanto? Resposta: não é a nacionalidade brasileira. É a porcaria da euforia. A verdade é que as pessoas que gozam da benção de serem optimistas, felizes, alto astral, boa onda, ou simplesmente alegres (a alegria é uma coisa tão prosaica), deixam-me fora de mim, quase tanto como aqueles mails com gatinhos e cãezinhos fofinhos e frases pirosas a brilhar. Prefiro mil vezes a companhia de gente com mau feitio, mas mais silenciosa. O que, obviamente, faz de mim uma pessoa muito, muito triste.

Sunday, August 15, 2010

A gata que queria voar

Chamo-me Jimi e ganhei uma história para contar.

Tudo começou quando decidi aprender a voar.


Na varanda da minha casinha

conheci muitos outros bicharocos:

borboletas, moscas, uma libelinha

e pássaros com ar de loucos.


Um pardal que se chama José

disse-me certo dia:

vem voar, eu mostro como é!

Vais saber o que é a alegria.


Como sou uma gatinha nova

E com força de vontade

Decidi logo pôr-me à prova

E cedi à curiosidade.


Saltei para o muro e olhei para o chão

Tão longe, lá no fundo!

Mas mais forte que medo no coração

Era a vontade de conhecer o mundo.


Vá lá, estou à espera! Salta!

Piou o José, esvoaçando à minha frente

Com tanto medo de alturas não és gata,

mais pareces gente!


Ora, aquilo feriu-me o orgulho,

Que eu sou bastante felina.

Destemida, sempre a fazer barulho,

Irrequieta, corajosa e ladina.


E para provar que não sou medrosa

E que não tenho nada a ver com gente

Mandei-o engolir a prosa

E dei um passo à frente.


A primeira coisa que senti foi o vento

E sob as patinhas o vazio.

Mas logo a seguir a dor do pavimento

E no estômago um arrepio.


Não me lembro depois muito bem

De tudo o que aconteceu

Só miava pela minha mãe

Enquanto o dia não nasceu.


No final de uma noite de dor,

(e que longa a noite foi)

A minha dona levou-me ao doutor

Para me tratar o dói-dói.


Levei duas picas no traseiro

A que nem torci o nariz

Deixaram-me descansar primeiro

E depois fizeram Raios-X


Para além de muito dorida

Não fui assim tão azarada

Porque a única ferida

foi a bacia fracturada.


Agora que voltei para casa

Já sei que me espera um mês

Em que vou ter que ficar sossegada

Para depois voar outra vez.










Monday, August 9, 2010

Quanto tempo o tempo tem?


Gostava de saber o que fizeste aos meus relógios: sem ti, competem os ponteiros para ver qual consegue estar mais tempo parado. O dia a ganhar horas, muito para lá das vinte e quatro. Um barulho qualquer dentro de mim que me acorda tão cedo e não me deixa adormecer.

Contigo por perto, o raio dos ponteiros numa corrida desenfreada, cavalos selvagens no desfiladeiro de cinco minutos. Galope impossível de travar sem ser esmagado.

Algo se passa com os meus relógios. És tu.

Thursday, August 5, 2010

O acordo

Detesto o acordo ortográfico. Leio um jornal ou uma revista e a minha voz mental soa a uma mistura de tia de Cascais com carocho arrumador de carros disléxico. Às vezes dou por mim a olhar para a mesma palavra 30 vezes antes de conseguir perceber bem de que se trata.
ator
aspeto
agosto
proteção
Não significam coisa rigorosamente nenhuma.

Wednesday, July 28, 2010

Vamos brincar #3

Faz de conta que tu és um gato e eu um castelo de cartas.

Friday, July 23, 2010

vértice



Voltei ao meu ninho, como sempre volto quando a vida me maltrata e me atira brutalmente contra as paredes dos fins de todas as coisas.

O teu silêncio de lágrimas a doer-me, está um dia seco de Verão, passo ao lado do cemitério e decido entrar. Ainda não tenho aqui ninguém. Mas é um aconchego a brancura do mármore, o sábio silêncio dos mortos, e aquela estátua negra da Morte, na atitude de uma mãe que se prepara para nos beijar a testa. Preferia talvez que a morte me beijasse na boca, mas isso são privilégios da Vida, que é cruel e oferece e arranca, beija e esfaqueia, sorri e insulta.

Mas como é bela, essa estátua da Morte, envolta num longo manto de musgo e verdete, a lembrar-nos a paz e a justificar tanta coisa com a trasitoriedade de tudo...

Alguns metros depois, todos os lugares da minha infância de verdade e joelhos esmurrados: as árvores a que subia, os muros em que me esqueci tantas tardes, à procura de respostas _ respondias-me, se tivesses estado lá, nessas noites aéreas de feno e calor? _ a minha casa agora ao abandono, ainda com as minhas roseiras brancas a florescer na sombra, e o meu quarto intacto, uma boneca nua e sem cabelo em cima do roupeiro, para lá da janela.

Tudo o que eu gostava que soubesses de mim e não hás-de saber nunca. Eu sempre um vértice solitário no final de duas rectas de distância.

Tuesday, July 20, 2010

vim só dar-vos música

porque não tenho nada de interessante para dizer.

Saturday, July 17, 2010

Saturday, July 10, 2010

Sabes,


Preciso de ti. Preciso de ti. Preciso de ti. Preciso de ti. Preciso de ti. PRECISO DE TI. PRECISO DE TI.

Monday, July 5, 2010

momentos RFM

Nunca fui fã da Mafalda Veiga, mas esta tem uma letra absolutamente fabulosa.



Pedes-me um tempo,
para balanço de vida.
Mas eu sou de letras,
não me sei dividir.
Para mim um balanço
é mesmo balançar,
balançar até dar balanço
e sair..

Pedes-me um sonho,
para fazer de chão.
Mas eu desses não tenho,
só dos de voar.

Agarras a minha mão
com a tua mão
e prendes-me a dizer
que me estás a salvar.
De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer,
mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração...

Pedes o mundo
dentro das mãos fechadas
e o que cabe é pouco
mas é tudo o que tens.
Esqueces que às vezes,
quando falha o chão,
o salto é sem rede
e tens de abrir as mãos.

Pedes-me um sonho
para juntar os pedaços
mas nem tudo o que parte
se volta a colar.

E agarras a minha mão
com a tua mão e prendes-me
e dizes-me para te salvar.
De quê?
De viver o perigo.
De quê?
De rasgar o peito.
Com o quê?
De morrer,
mas de que paixão?
De quê?
Se o que mata mais é não ver
o que a noite esconde
e não ter
nem sentir
o vento ardente
a soprar o coração.

Thursday, July 1, 2010

Naquele engano d'alma ledo e cego...


... é a legenda azul de um dos paineis de azulejos do Tribunal. Por cima, Pedro e Inês passeiam na verdura luminosa da Quinta das Lágrimas. Viram-nos as costas, enlaçados pela cintura, corre-lhes a água aos pés. Segue-os um cão que é como um aviso, e sobre as suas cabeças há duas borboletas brancas de um destino de efemeridade.

Pena que o enquadramento de tal figura tenha os tais anjinhos com barrigas em pregas flácidas e homens nus, segurando grinaldas de frutos, que, se eu fosse lombrosiana, diria serem retratos de criminosos, a olhar os querubins pelo rabo do olho.

Monday, June 28, 2010

Sunday, June 27, 2010

deserto

foste gota de água na minha mão e eu sem tempo de te beber antes que te escapasses entre os dedos.

Saturday, June 26, 2010

Sunday, June 20, 2010

damn hot

esboço longe da vista

se tivesse que pintar esta noite, escolheria para o céu a profundidade dos teus olhos, com umas pinceladas leves dessas núvens de tristeza que às vezes os atravessam. a lua seria o teu sorriso, claro, e esta bruma fresca teria o carmim do teu beijo. desenharia depois as árvores à imagem da tua pele, e deixaria no canto inferior esquerdo, à laia de assinatura, a pequena figura negra de uma mulher abismada perante a dor de uma ausência. como moldura, o ouro do silêncio apertado que soubeste dar-me hoje.

Wednesday, June 16, 2010

sem título

Doem-me os braços vazios de ti. Fecho os olhos e a vontade não desaparece, marcada a ferros por dentro das pálpebras. Não me protejas, não me queiras segura. Fosses tu sal, e eu não quereria ser nada senão carne viva. Vem. Queima-me com a curva breve dos teus dedos. Rasga-me a pele, faz-me sentir, vê os rios de sangue que correm em enxurrada por dentro de mim, desde que chegaste e escancaraste as comportas que me limitavam. Quero-te. Agora. Sem prudência e sem remédio. Deixou de haver lugar para tudo o resto. Ficou só a vontade certa do meu punho cerrado.

Monday, June 14, 2010

Omnipresença

Na brisa que brinca com o meu cabelo na escuridão
que me aconchega na luz que me anima
no riso que sobe de mim no rio subterrâneo do meu choro
no calor das minhas mãos
no arrepio breve da minha pele.
Na minha sombra na minha cabeça dentro dos meus olhos.
Omnipresente.
Força da gravidade.

Sunday, June 13, 2010

Iutube

O que me irrita é não conseguir ver as cenas "polémicas" dos vídeos da Lady Gaga por não suportar ouvir a música tempo suficiente...

Thursday, June 10, 2010

Deja que pasemos... sin miedo

Aconchego


Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo. Dorme, meu amor -

a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que
adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos

agora e sossega a porta está trancada; e os fantasmas
da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,

meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.



Maria do Rosário Pedreira

Pablo Picasso

Tuesday, June 8, 2010

Os perigos do êxtase

Helena Abreu

Quantas arestas temos,

quantos cantos,

quantas formas de amar?


Ana Luísa Amaral, Entre dois rios e outras noites (apontamentos desiguais, VII)

Friday, June 4, 2010

Vamos brincar #2

Faz de conta que tu és uma gota de água e eu duas mãos em concha.

Hangover



NOTA: Não há interpretações a fazer. Também gosto desta música, pronto. ;)

eu vi, mas...

Monday, May 31, 2010

Lei 9/2010 de 31 de Maio

"Permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo
A Assembleia da República decreta, nos termos da al. c) do art. 161º da Constituição, o seguinte:
Art. 1º
Objecto
A presente lei permite o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
Art. 2º
Alterações ao regime do casamento
Os artigos 1577º, 1591º e 1690º do Código Civil passam a ter a seguinte redacção:
"Art. 1577º
[...]
Casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena comunhão de vida, nos termos das disposições deste Código."
"Art. 1591º
[...]
O contrato pelo qual, a título de esponsais, desposórios ou qualquer outro, duas pessoas se comprometem a constrair matrimónio não dá direito a exigir a celebração de casamento nem a reclamar, na falta de cumprimento, outras indemnizações que não sejam as previstas no art. 1594º, mesmo quando resultantes de cláusula penal."
"Art. 1690º
[...]
1. Qualquer dos cônjuges tem legitimidade para contrair dívidas sem o consentimento do outro.
2. ................."
Art. 3º
Adopção
1. As alteraçõesintroduzidas pela presente lei não implicam a admissibilidade legal de adopção, em qualquer das suas modalidades, por pessoas casadas com cônjuge do mesmo sexo.
2. Nenhuma disposição legal em matéria de adopção pode ser interpretada em sentido contrário ao disposto no número anterior.
Art. 4º
Norma revogatória
É revogada a al. e) do art. 1628º do Código Civil.
Art. 5º
Disposição final
Todas as disposições legais relativas ao casamento e seus efeitos devem ser interpretadas à luz da presente lei, independentemente do género dos cônjuges, sem prejuízo do disposto no art. 3º."
Pena que este diploma carregue à nascença a inconstitucionalidade do seu art. 3º...

Sunday, May 30, 2010

Q&A

Não interessa se estás sozinho no silêncio, ou rodeado de amigos e música e copos e cigarros: quando alguém te empurra, tens mesmo que fazer a viagem para dentro de ti, rumo ao que ainda não sabes. Ou será que sempre soubeste?

Tuesday, May 25, 2010

Deus quer que eu...

... chegue à conclusão de que as pessoas demasiado cúmplices nunca podem ser amantes. E já vou na terceira lição.

Sunday, May 16, 2010

Pela vossa saúde

Um aturadíssimo estudo, baseado no comportamento de algumas espécies em contexto queima-fitístico e no testemunho esclarecido de reputados especialistas, permitiu-nos concluir que, tal como a SIDA, a BURRICE é uma doença sexualmente transmissível e altamente contagiosa. Proteja-se: antes do sexo, faça um teste... de QI.

Wednesday, May 12, 2010

pá...

... sabem quando a nossa vida parece que se repete por qualquer razão, e estamos sempre a sofrer o mesmo tipo de decepções, ou de rejeições ou algo assim do género, e já nem há muito a dizer, porque o que estamos a sentir agora é o mesmo de há 1 ano atrás , e de há 3 ou 6 ou 10, e só mudam as pessoas? E depois ficamos a pensar se é o malvado destino, ou a vida, ou culpa nossa? E encolhemos os ombros, olha, azar, comigo é sempre assim, também já estou habituado? Pronto. É isso.

Wednesday, May 5, 2010

Livro Amarelo

RECLAMAÇÃO


Ex.mo Senhor Deus:


Venho por este meio mostrar a minha indignação perante os defeitos de fabrico inerentes à construção da minha pessoa que, não sendo imputáveis aos meus pais, parentes, amigos, conhecidos ou qualquer outra entidade pública ou privada, por exclusão de partes, só podem ser da responsabilidade de V. Exa.

Assim, e em ordem aleatória:


1) O que os outros espécimes humanos conseguem fazer em 10 dias, eu preciso de 10 anos;


2) Sou incapaz de manter viva qulaquer planta (incluindo cactos) que esteja a meu cuidado, por muito que me esforce;


3) Possuo dois pés esquerdos de tamanho 39.


4) O meu cérebro não tem a função de "suspensão" ou "hibernação", resultando na viciação da bateria e no sobreaquecimento frequente dos neurónios.


5) Tenho alergia ao estrangeiro, à Primavera e à Beyonce.


6) Sofro de pessimismo crónico;


E podia continuar como se não houvesse amanhã. Mas, infelizmente, há.


Assim, deve V. Exa. dignar-se reparar as falhas de equipamento acima descritas com a maior brevidade possível ou, caso a reparação não se mostre viável, a substituição deste equipamento por um novo numa próxima reencarnação.


Sem outro assunto



Thursday, April 29, 2010

A visita

Vêm há semanas, e ainda lhes resta uma lágrima ou duas, aguazinhas teimosas a transbordar dos olhos feridos pela brancura dos muros, encimados pelo brilho sinistro de vidros cravados no cimento, apontados ao céu _aqui começa o inferno_ aqui não há deuses, nem anjos, nem nuvens brancas. Há grades com fechaduras e celas com fechaduras e portas blindadas com fechaduras, e números a substituir os nomes. Não são precisos nomes para quem deixou de ser gente.
Vêm há semanas. Têm cabelos brancos e pernas fracas e corações quase parados. Pai e mãe de um filho que deixou de ser gente porque está preso. Carregam um saco com comida e com culpa. Lá dentro, esse que já não é gente há-de comer às garfadas o bocadinho de lar que lhe trazem. Por breves segundos está em casa, é uma criança sentada num banco, os pés suspensos a baloiçar
"Mãe, quero ser grande"
Uns pés que não chegam ao chão, um afago triste no cabelo.
Fim da visita. O inferno volta a ser inferno, a gente deixa de ser gente, os pés já não baloiçam, arrastados. Menos para aqueles pais, que deixam o seu menino sentado à mesa, de pés suspensos a baloiçar para lá dos muros.

Thursday, April 15, 2010

Dois amores

Um grupo de investigadores da Universidade de Queensland, Austrália, conduziu um estudo cujas conclusões indicam que as mulheres louras são mais bem pagas do que as morenas, ganhando em média mais 1700 euros por um salário anual de 25 mil euros.
Explicação para o fenómeno? As mulheres louras são descritas como "mais sedutoras". Para além disso, o estudo conclui também que, para além de ganharem mais, as louras casam com homens mais ricos do que as morenas (the biAtches!).
Saltando por cima da eterna questão a que este estudo (também) não responde _ MAS AS LOURAS SÃO MAIS SEDUTORAS PORQUÊ?? _ não estou certa se não deveremos interpretar isto de outra forma: As louras não ganham mais porque são louras. São louras porque ganham mais! Ser loura é caro. São muito poucas as mulheres naturalmente louras e só pode fazer madeixas e pintar as raízes de duas em duas semanas quem ganha o suficiente para isso.
Eu sei que me estou a repetir, e que corro o risco de ninguém conseguir dar-me uma resposta satisfatória mas... alguém quer arriscar explicar o que é que uma loura tem de especial?





PS: Quem acham que ganhou mais? A loura Marylin ou as desgraçadas das morenas amarradas ao lustre?...

Música no coração

Como introdução, tenho algumas confissões embaraçosas a fazer:


1. "Música no Coração" foi, durante anos e anos, o meu filme preferido. Vi-o centenas de vezes e ainda hoje sei todos os diálogos e canções de cor.

2. Tenho a certeza absoluta que, se visse hoje o filme, voltaria a chorar na cena em que a Madre Superiora canta "Climb every mountain."

3. Quando tenho insónias ou estou cheia de medo, canto para dentro todas a músicas do filme, por ordem, e geralmente consigo sempre adormecer depois do "Edelweiss".


Agora que estou cheia de vergonha, já vos posso dizer que decidi finalmente responder a uma pergunta que fiz a mim mesma muitas vezes: o que é feito dos actores e actrizes que interpretaram os sete filhos do Capitão Von Trapp? Rápida pesquisa e eis os resultados:






http://www.angela-cartwright.com/soundof.htm

Para quem tinha a mesma curiosidade que eu, cliquem lá, que vale a pena.

E agora, que já se faz tarde... So long, farewell, aufwiedersehen, goodbye... lalala!



Wednesday, April 14, 2010

Ode ao café

Café, esse vício. Cabe tanto numa chávena ritual: o calor escuro e perfumado, um sorriso, um bom dia. Uma gargalhada energizante, um encontro fumegante, cremoso às vezes. Sacudimos o açúcar, mexe-se lentamente no sabor da antecipação. Cabe tanto nessa chávena ritual, pretexto eterno para uma conversa, um olhar mais demorado, um número de telemóvel, um beijo, quem sabe. O café é um poder, uma necessidade, um acto de religião, uma paixão. Uma instituição nacional.

Tuesday, April 13, 2010

Considerações sortidas

Consideração #1
Duas semanas sem computador. O meu velhinho Acer não resistiu a mais uns anos de maus tratos e faleceu. Assim, sem um queixume, ou um último suspiro. Deixei-o a dormir e não voltou a acordar. Morte santa.
Menos santa foi a minha disposição, por ter que adquirir um novo. Ainda pensei seriamente em não comprar nada, era o que faltava, tanto que posso fazer com esses 600 euros, é desta que remo contra a corrente e recuso a informatização da minha vida, volto a ler o jornal em papel, volto a sair com os amigos em vez de os ver no facebook, volto a fazer os trabalhos à mão, com letra perfeita e esquadrias tiradas a tinta-da-china e régua T. Entrego a declaração do IRS nas finanças, e quem me quiser contactar que me telefone, o e-mail já era. Toda eu era boa vontade. Mas que não resistiu às imposições profissionais e ainda menos à necessidade de blogar.
Consideração #2
Entretanto, apareceu-me o recrutamento de juristas para a União Europeia. Local de trabalho: Bruxelas. Bruxelas tem mau tempo. A minha mãe, ansiosa por me ver fora daqui, todos os dias ao telefone: Já te candidatas-te? Olha o prazo, tu concorre... e eu, sim mãe, 'tá bem, amanhã. Lá fui a casa do amigo do costume, pedir que me deixasse enviar aquela porcaria. Formulário de candidatura em Inglês, respostas em inglês, o meu já muito enferrujado, e surge a pergunta da morte: "Describe two of your greatest achievements, how did you obtained them and the positive consequences on your life and for others." Qualquer coisa assim, mas sem erros. E eu, olha que merdice de pergunta, não vou preencher este campo. E o cabrãozito de um asterisco: vais, que é obrigatório. Ou aparece-te um daqueles avisos a vermelho a dizer que te falta preencher um campo. Fuck. Eu não tenho nenhum achievement. Nem sequer sei que palavra portuguesa corresponde a "achievement". Vai daí, começo a chorar. É suposto que aos 25 anos eu já tenha dois achievements dignos de nota? Já não quero preencher isto, que se lixe, também não quero nada ir para Bruxelas, lá está a chover e aposto que se come mal. Mente, inventa qualquer coisa, aconselhou-me o amigo. Não sou boa a mentir. Mas também não sou malcriada e como não gosto de chatear as pessoas em vão e só faltava aquela resposta, escrevi simplesmente: "I'm 25. I haven't had time for any achievements yet."
Cheira-me que não serei seleccionada...
Consideração #3
Caro colega com ar ligeiramente nerd mas incrivelmente interessante e bastante jeitoso que frequenta as aulas de Práticas Processuais Laborais na CDC da OA: que tal um cafezinho no intervalo?
Consideração #4
Os meus vizinhos de cima acordaram-me no Domingo às 9 da manhã, aos berros um com o outro. A acústica do meu prédio é melhor que a dos Jerónimos. Ouve-se tudo com tanta nitidez que é impossível não ser cusca. Não esperem que vos conte aqui o motivo das discussões alheias, até porque não interessa mesmo. Quero apenas referir que a minha vizinha de cima é tão maníaca da limpeza que não se limita a aspirar a casa TODOS OS DIAS. Depois de dizer e ouvir coisas horriveis, suficientes para deixar qualquer pessoa de rastos e a chorar todo o dia debaixo dos cobertores, esperou apenas que o marido batesse a porta de casa com estrondo para ir buscar o aspirador e deixar a casa num brinco. Aposto que dá para comer no chão. Como eu gostava de ter essa capacidade... Já era um achievement.

Friday, March 26, 2010

Eu amo (mais ou menos) Portugal

Em conversa com um amigo que se considera um cidadão do mundo, dizia-lhe eu que essa história de cidadania mundial é uma grande treta. Eu sou portuguesa de uma maneira tão radical que logo que saio de Vilar Formoso e entro em Fuentes de Oñoro deixo logo metade do coração para trás e começo a entristecer. Eu nunca viajei e não me importo assim tanto. Talvez ame tanto o meu país porque nunca vi os outros. Mas eu não sou daquelas pessoas para quem a nossa casa só existe quando estamos fora dela.
Emigrar, para mim, está quase fora de questão. E se, por acaso, agora se abatesse uma catástrofe de tais dimensões que me obrigasse a sair do país por comprometer a minha sobrevivência, como, para dizer assim uma coisa ao acaso, o Alberto João ser eleito primeiro ministro, só me via a viver num dos outros membros do "Club Med": Espanha (apesar de terem péssima comida), Itália (apesar do Berlusconi) ou Grécia (apesar de não apreciar homens de toga).

Há três razões fundamentais para eu gostar de Portugal:

1. A melhor gastronomia do mundo;
2. A língua mais bonita do mundo;
3. O clima mais equilibrado do mundo.

Tendo em conta que estamos no fim de Março e que desde Outubro que não vejo o Sol brilhar o dia todo, começo a pensar se compensa assim tanto viver em Portugal. Porque se é para passar semanas a pensar "O quê? Hoje também está a chover?? QUERO MORRER!!! A VIDA NÃO FAZ SENTIDO!" acho que prefiro mudar-me para um país cinzento qualquer do norte da Europa...
(Imagem da qual me apropriei indevidamente, mas sem intenção de a tornar minha)

Na cama com...

...Vergílio Ferreira:

"Deitada sobre a cama, noite de lua, ofegante. O lençol desce-te até ao ventre, na luz pálida que passa pela cortina transparente, vejo-te, estaco fulminado _"deita-te"_ , ergues um joelho sob o lençol, os dois seios nus pousados no peito, a mancha da face entre os cabelos escuros desalinhados. Rápido, destro, a urgência fina e funda, intenso, violentíssimo, o meu corpo erguido na noite, um clarão suave abrindo ao alto no teu quarto. Ágil, curvilíneo, plasmado às vagas do teu calor, massa densa e húmida, a humidade ressuma da íntima fermentação, lúbrico, lubrificável. Duro, reteso. Toda a violência da terra, mastigação vulcânica, laboriosa, do plasma original, apontada a ti, centrada massa endurecida irrompe, ameaça tensa como um dique de pressão crescente ó Deus, ó Deus, e como é belo um punho cerrado a cólera hirta de olhos estoirando no fundo de mim e a procura cega do mais absoluto exigente vigoroso a raiva, a raiva, arre! tu, máximo inacessível e tão perto _a invasão expande-se na onda de orgulho alta como o poder concreto de todas as forças conglomeradas, tomba, impacte brutal, alastra à babugem escumosa na praia aberta, efervescente vencida no trémulo cisco ainda esfervilhando ainda faúlha breve aqui e além no estertor do fim escorrida em baba e em choro reabsorvida na areia porosa da terra que recomeça..."

"Alegria Breve"

(Um cigarro)

Tuesday, March 16, 2010

Chonés

Quer queiramos, quer não, a RTP 2 é o único canal que presta verdadeiro serviço público: em vez de novelas passa boas séries a horas decentes, filmes excelentes que nunca passariam nos outros canais e espectáculos culturais a que o não-lisboeta não tem acesso. E não vale a pena virem com a conversa de que a RTP 2 é um canal pseudo-intelectual e/ou cara-de-cu.
Mas é no que respeita à programação infantil que a RTP 2 se destaca: em primeiro lugar, passa a Ovelha Choné à hora do almoço. E à tarde começou recentemente a emitir um programa pequenino mas que nos merece reflexão. Chama-se "Matemática 2" e provavelmente foi importado da China ou do Japão. Trata-se de colocar problemas matemáticos explicando-os com o recurso a imagens esquemáticas e exemplos do quotidiano. E destina-se a crianças... mas, infelizmente, não às nossas. Hoje falavam eles da utilidade dos registos estatísticos, em tabelas e gráficos, para saber, por exemplo, quando a máquina de uma fábrica de parafusos necessita de ser calibrada em centésimas de milímetro porque os parafusos não estão dentro das medidas definidas ou para decidir qual o melhor meio de transporte entre os pontos A e B tendo em conta as diferentes variáveis que os afectam. Eu tenho 25 anos e pareço um boi a olhar para um palácio, sem perceber nadinha. E os miúdos japoneses* vêem aquilo enquanto estão calmamente a comer cereais antes de irem para a escola. E fazem as contas de cabeça. Isso diz muito da educação no nosso país, em que não se passam trabalhos de casa aos meninos para não lhes cansar o cerebelo...

*A título de curiosidade: as crianças japonesas lêem em média 35,9 livros por ano...

Monday, March 15, 2010

Happy place

Não sei bem de onde me vem a necessidade constante de música de fundo, mas tenho quase a certeza que a culpa é do meu pai, que nunca tinha o auto-rádio desligado, gravava montanhas de cassetes com Queen, Dire Straits, Pink Floyd, Elton John e outros que tais, e me mandou aprender a tocar orgão quando eu ainda nem sabia distinguir a mão direita da esquerda. A verdade é que, só recentemente, quando a música me faltou, me apercebi de que ela foi um vício, desde toda vida: normalmente, antes de adormecer, deixo cuidadosamente o comando da aparelhagem junto à almofada, para que, ao acordar, consiga encontrá-lo sem precisar de abrir os olhos e carregar "on". Só a desligo quando saio de casa, depois de ligar o MP3, que só desligo quando chego ao carro e ligo o rádio. Até ao dia em que o rádio deixou de tocar e começou a deitar fumo. Morreu para não mais acordar. E conduzir se tornou praticamente impossível. Como estudar ou trabalhar sem música é impossível (estou perfeitamente convencida de que se não tive média de 15 na faculdade é porque nunca me deixaram estar a ouvir música enquanto fazia os exames).
E sempre que não há forma de contornar o silêncio e estou muito triste, ou cansada, ou revoltada, ou furiosa, há três cançonetas que (inexplicavelmente) me curam a alma e me fazem sentir no aconchego de um berço, embora não me lembre exactamente quando terei começado a ouvi-las:





Wednesday, March 10, 2010

Farewell

3
(Amo el amor de los marineros
que besan y se van.

Dejan una promesa.
No vuelven nunca mas.

En cada puerto una mujer espera;
los marineros besan y se van.

Una noche se acuestan con la muerte
en el lecho del mar.

4
Amo el amor que se reparte
en besos, lecho y pan.

Amor que puede ser eterno
y puede ser fugaz.

Amor que quiere libertarse
para volver a amar.

Amor divinizado que se acerca
Amor divinizado que se va.)

5
Ya no se encantarán mis ojos en tus ojos,
ya no se endulzará junto a ti mi dolor.

Pero hacia donde vaya llevaré tu mirada
y hacia donde camines llevarás mi dolor.

Fui tuyo, fuiste mía. Qué más? Juntos hicimos
un recodo en la ruta donde el amor pasó.

Fui tuyo, fuiste mía. Tú serás del que te ame,
del que corte en tu huerto lo quehe sembrado yo.

Yo me voy. Estoy triste: pero siempre estoy triste.
Vengo desde tus brazos. No sé hacia dónde voy.

... Desde tu corazón me dice adiós un niño.
Y yo le digo adiós.


Pablo Neruda,
Crepusculario (1920-1923)

Para sempre Vergílio


Em comentário a um post do Diaporese, escrevi:


"Depois de ler "Para Sempre" e de descobrir que o corpo de Vergílio estava sepultado num canto do cemitério dessa aldeia que sempre foi a sua, virado de frente para a Serra, tal como pedira, não resisti a procurá-lo. Encontrei a casa. E encontrei-o. Era Verão e o chão queimava, sentei-me na beira da campa rasa como na beira de uma cama acabada de fazer. Senti-lhe a presença de brasa incandescente sob as cinzas e pedi-lhe que me pusesse a mão sobre o ombro (tantas vezes me apeteceu essa mão sobre o ombro quando me perdia nos teus livros). Conta-me, Vergílio, diz-me o que vês. Permaneceu em silêncio, e no silêncio ouvi-o: olha, a enorme massa da montanha sob o céu carbonizado... Eu vi. Fechei os olhos. Já sei onde te procurar. A vontade de ficar aqui, para sempre."

21 de Janeiro de 2008 15:05


Quando escrevi isto, nunca tinha ido a Melo, nem nunca tinha visto a campa de Vergílio. Fui depois (contigo Zé, lembras-te?) e a surpresa foi nula, porque era como se já tivesse estado naquele cemitério dezenas de vezes. Não hesitámos sequer no caminho até à sepultura, fluímos para ela como se não houvesse mais nenhuma.

Lembro-me de ter pensado em como era curioso que um homem que passou toda a vida a afirmar aos gritos que a morte é um nada-nada, tivesse deixado escrito o desejo de ser enterrado de frente para a montanha... Sorri. Somos mesmo assim: Ternurentamente crédulos, apesar de apontarmos a nós próprios a arma da racionalidade, carregada de argumentos. Pólvora seca, talvez. Vou voltar a Melo, Vergílio. Já estou cheia de saudades.

Monday, February 22, 2010

"tudo bonitinho"

Geralmente, não gosto de falar de política e muito menos de políticos. Mas as últimas notícias sobre a Madeira e as declarações do presidente do respectivo governo regional deixaram-me sinceramente indignada. Nem há outro sentimento possível perante as imagens das ruas atulhadas de calhaus, de lama, de troncos, de destroços, um parque de estacionamento completamente submerso, deixando adivinhar ainda mais mortos sob as águas. E um representante, eleito por aquele povo, preocupado apenas com a imagem que a Madeira passa "lá para fora", os impactos no "turismo" e a promessa (!) de "pôr tudo bonitinho". Que nojo.

Monday, February 15, 2010

Post inteiramente dedicado a mim. E à Lena, pronto.

Sempre me perguntei porque raio nós, mulheres (ou melhor, eu, mulher especialmente parva), tendemos a afastar impiedosamente homens confiáveis, carinhosos, românticos e com a cabecinha no sítio (não, seus badalhocos, estou a falar daquela cabeça que aloja, em alguns casos, um cérebro), e só olhamos para os sacanas sem escrúpulos, que nunca na vida nos vão aparecer à porta com um ramo de flores, nem dedicar-nos uma música, e têm ar de quem nos pode estrangular com as próprias mãos. Nós não gostamos de bonzinhos. Há quem diga que isso se deve a uma auto-estima tão baixa que nos leva a convencermo-nos de que não merecemos ser felizes. Mas eu acho que a minha querida amiga Isabel tem razão: aos 20 anos, precisamos de lhes sentir as garras... Grrrrr...

Friday, February 12, 2010

O prometido é devido...

E o post é para vocês, que certamente apreciam o look Lolita... Enjoy.


Dominique Swain, a "Lolita" de Adrian Lyne (1997)