Tuesday, October 23, 2007

SOBRE O CAMINHO

Nada.

Nem o branco fogo do trigo
nem as agulhas cravadas na pupila dos pássaros
te dirão a palavra.

Não interrogues não perguntes
entre a razão e a turbulência da neve
não há diferença.

Não colecciones dejectos o teu destino és tu.

Despe-te
não há outro caminho.


Eugénio de Andrade

Wednesday, October 17, 2007

Apetecia-me subir ao último andar, mergulhar do telhado, esmagar-me no betão, desamparada, desfigurada, desmembrada, desfeita, desconstruída. Só para voltar a sentir o mesmo que sentia quando caía na vertigem de ti e me desamparavas desfiguravas desmembravas desfazias desconstruías. E eu morria e renascia purificada. Alguma vez fui capaz de te desconstruir?

Tuesday, October 16, 2007

Afinal, de que matéria somos feitos?
Levamos uma vida a pensar que somos uma orgulhosa torre de racionalidade, de princípios, de valores, do ferro forjado da moral.
Mas quando a coisa é a doer e somos realmente postos à prova descobrimos que não somos mais do que este monte de nervos e ossos e entranhas.
Reles esterco (des)humano.

Tuesday, October 2, 2007

" Lembro-me sobretudo de uma rapariga de 20 anos que usava uma cabeleira postiça. Percebia-se logo que a cabeleira era postiça, mas ela usava-a com tanta dignidade que era como se fosse uma coroa. Uma coroa de rainha."
António Lobo Antunes, em entrevista à Visão nº 760