Monday, November 15, 2010

Olá, sou a nova vizinha do segundo!


Mudei de casa. A bem da independência pessoal, sanidade mental e relações familiares entre os meus primos caloiros e eu.


O prédio onde vivia tinha 9 andares com 4 apartamentos cada um. O actual tem 4 andares com 3 apartamentos cada e é desprovido de elevador (alguém se oferece para me ajudar a mudar o sofá?).


Descobri que viver num bairro-dormitório em Coimbra é muito diferente de viver nesta aldeia à porta da cidade. Até agora, a última parece-me melhor: vistas de luxo para o luxo, pastelaria, mini-mercado, loja de ferragens e cabeleireiro pertíssimo, excelente isolamento acústico. Ausência de bandas de garagem e afins e, até ver, ausência de senhoras do círculo de leitores, comerciais das tv's por cabo, testemunhas de jeová e outros que costumam bater-nos à porta precisamente quando estamos a pintar as unhas dos pés, de roupão, com creme descolorante no buço e cabelo desgrenhado.


Mas as odisseias com os vizinhos continuam. E se no anterior apartamento o problema era a escassez de isolamento de som, aqui é a escassez de lugares de estacionamento: logo na primeira semana, cometi o erro crasso de estacionar o bólide frente a uma das garagens do prédio. Era para ser só por 5 minutos, mas adormeci e acordei meia hora depois, com buzinadelas frenéticas e a campaínha da porta a tocar como se houvesse um incêndio: tive que encarar, de olhos remelosos, a cara furiosa do dono da garagem, que é desses sujeitinhos que penduram as meias na corda por degradé de cores, e pedir mil desculpas, enquanto tentava recuar, com as lentes de contacto secas.


Depois, começamos a estacionar num excelente lugarzinho que (aparentemente) não incomodava ninguém, entre um carro sem rodas coberto por um toldo e um renault clio velho com todos os pneus furados. E os nossos carros começaram a aparecer "trancados" por este último. Sem que ninguém se apercebesse, o dono fazia-o descair para nos impedir de sair dali. Com manobras de génio e alguns toques no carro dele, sempre conseguimos contornar o obstáculo. Até sábado...


Furiosas, em cima da hora para ir trabalhar, vai de buzinar até que o polegar nos doa. Aparece a vizinha do quarto, vociferando que não-sei-quem estava convencido que aquilo era tudo dele e que tinha a mania de trancar tudo quanto era veículo e que até já havia queixa na polícia municipal. Que vivia no prédio do mini-mercado e toda a gente sabia quem ele era. Eu, de cabelos em pé, decidi logo chamar a polícia com um reboque, mas a Cláudia, mais sensata e pacífica, achou melhor tentarmos encontrar o homem para falar civilizadamente. Depressa percebi que a situação não era nova, porque toda a gente no mini-mercado sabia bem de quem é que eu andava à procura. Porém, informaram-me que sim, senhor, o homem arrenda o espaço todo e que se ele já nos tinha trancado o carro, não tínhamos nada que o lá deixar. Retorqui que eu não adivinho que contratos de arrendamento é que ele tem, que sem placa de "parque privado" eu deixo lá quantos carros quiser, e que vou chamar já a polícia.

Claro que, já depois de eu ter apanhado outra boleia para ir trabalhar, aparece o homenzinho, na sua motoreta, vindo de um tasco qualquer com um bafo bastante esclarecedor e que talvez tenha sido a causa de ele se espetar de mota contra o portão da própria garagem. Vinha indignadíssimo, que não tirava o carro não senhora! Isto é tudo meu e o camandro, e não sei como tiraram daqui o carro das outras vezes, e a polícia, e Pombal e Castelo Branco, uma salganhada. A Cláudia lá optou por conversar com os filhos do homem, sóbrios e sensatos, que acabaram por tirar o carro. Chegou a polícia e não foi preciso sair da sua viatura branca e azul. E o vizinho continua sem lá pôr a placa de "Parque Privado"...