Wednesday, March 10, 2010

Para sempre Vergílio


Em comentário a um post do Diaporese, escrevi:


"Depois de ler "Para Sempre" e de descobrir que o corpo de Vergílio estava sepultado num canto do cemitério dessa aldeia que sempre foi a sua, virado de frente para a Serra, tal como pedira, não resisti a procurá-lo. Encontrei a casa. E encontrei-o. Era Verão e o chão queimava, sentei-me na beira da campa rasa como na beira de uma cama acabada de fazer. Senti-lhe a presença de brasa incandescente sob as cinzas e pedi-lhe que me pusesse a mão sobre o ombro (tantas vezes me apeteceu essa mão sobre o ombro quando me perdia nos teus livros). Conta-me, Vergílio, diz-me o que vês. Permaneceu em silêncio, e no silêncio ouvi-o: olha, a enorme massa da montanha sob o céu carbonizado... Eu vi. Fechei os olhos. Já sei onde te procurar. A vontade de ficar aqui, para sempre."

21 de Janeiro de 2008 15:05


Quando escrevi isto, nunca tinha ido a Melo, nem nunca tinha visto a campa de Vergílio. Fui depois (contigo Zé, lembras-te?) e a surpresa foi nula, porque era como se já tivesse estado naquele cemitério dezenas de vezes. Não hesitámos sequer no caminho até à sepultura, fluímos para ela como se não houvesse mais nenhuma.

Lembro-me de ter pensado em como era curioso que um homem que passou toda a vida a afirmar aos gritos que a morte é um nada-nada, tivesse deixado escrito o desejo de ser enterrado de frente para a montanha... Sorri. Somos mesmo assim: Ternurentamente crédulos, apesar de apontarmos a nós próprios a arma da racionalidade, carregada de argumentos. Pólvora seca, talvez. Vou voltar a Melo, Vergílio. Já estou cheia de saudades.

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