Tuesday, February 8, 2011

Padaria Pastelaria "A Caderneta"

O café da minha rua podia perfeitamente chamar-se assim, tal é a quantidade, diversidade e qualidade de cromos que por lá param.
Há o bêbedo sempre a cravar moedinhas para mais um copito de branco ou de bagaço, ou o que houver. Que não é ecologista, diz ele, mas acha mal que se matem as árvores e as oliveiras para fazer notas, quando as moedas chegam muito bem.
Há um rapaz muito novo e já sem dentes, de tanto dar nas drogas, que chega, pede, come, e no fim declara com a maior lata deste mundo que não tem dinheiro para pagar. Ao responso do empregado, encolhe os ombros e diz com voz de Eduardo Sá: pensava que já tínhamos ultrapassado essa fase.
Na mesa do canto, as três marias, pão nosso de cada dia, chova ou faça sol, sempre depois do almoço. Cada uma com seu talento: uma faz conjuntos completos de crochet rosa choc ou azul turquesa, outra tem a capacidade extraordiária de parecer uma tartaruga, com o seu pescocito enrugado, esticando a cara em direcção ao sol, e a terceira, toda vestida de preto, é bem capaz de concentrar em si todo o azedume do mundo contra o bicho homem e o homem bicha.
Um dia, escreverei mais detalhadamente sobre cada um. Quando tiver tempo de me deixar ficar a ouvir atentamente as conversas das mesas do lado.

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