Tuesday, February 1, 2011

Como aquelas andorinhas de barro que se penduram nos alpendres


Hoje acordei triste por não ser mais morena, por não ter o cabelo bonito e a pele perfeita, por ter um olho ligeiramente mais pequeno que o outro, por ter mãos demasiado grandes e mamas demasiado pequenas. Por não gostar de usar pulseiras, e adorar colares fininhos com a palavra LOVE em letras douradas. Por não saber andar de saltos altos e encolher os ombros quando me falam em estilo. Por preferir ficar no sofá a jogar Trivial a uma sexta à noite em vez de saír até de manhã. Por ler o que mais ninguém gosta, por chorar no cinema e só gostar de filmes que são murros no estômago, por passar tanto tempo sozinha e aborrecer-me quando estou acompanhada. Depois sentei-me numa mesa de café e imaginei-me outra. E se eu fosse uma estranha para mim, eu iria certamente achar-me, no mínimo, curiosa. Para além de que as coisas (e pessoas) feias têm uma beleza muito especial. O Vergílio Ferreira sabia isto muito bem e disse-o em "Na tua face". Há algo de subterraneamente belo em tudo o que é feio. E o Vergílio era belíssimo.

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