Saturday, April 2, 2011

requiem

Várias vezes conversei com o meu pai sobre aquilo que cada um de nós queria que fosse feito nos respectivos funerais. E isto não tem, nunca teve, qualquer tipo de morbidez associada _ para nós era normal falar do assunto, muito embora, como toda a gente, nos custasse pensar a morte do outro e não a própria. Cheguei a pensar que a necessidade de dizer como queria que as coisas fossem feitas se prendia com a minha necessidade de controlar tudo na minha vida, incluindo a morte. Mas à medida que me fui conhecendo percebi que o controlo é algo que, de certa maneira, desprezo. Vivo muito melhor sem ele. A organização do meu funeral não é senão uma actividade lúdica de horas mortas, que tem dado para boas conversas e sadias discussões. As minhas ideias foram mudando, ao longo dos anos. Tinha decidido que queria que lessem o capítulo 13 da I epístola de S. Paulo aos Coríntios :"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine", mas desisti, porque Paulo estraga tudo mais à frente. E já mudei de flores preferidas mil e uma vezes: rosas brancas, cravos vermelhos, girassóis, camélias. Cheguei a dizer que queria levar um telemóvel carregado e com bateria, num caixão sem chumbo, por causa da rede, para poder ligar caso afinal estivesse viva, matando de susto a pessoa que atendesse o telefone. Mil e um pormenores. Mas faltou sempre o mais importante: a música. Toda a gente tem uma música que gostaria que fosse tocada no seu funeral, desde a Lacrimosa de Mozart (para os mórbidos) ao Goodbye my lover do James Blunt (aproveito já para avisar os meus amigos que escolherem esta última que se arriscam a que eu tenha um ataque de riso nos seus funerais, dada a pirosice da coisa).

Eu não consigo decidir que música é que eu quero para o meu. Podia ser uma pseudo-intelectual cara de cu e querer o Concerto #1 para piano, de Tchaikovsky. Ou alternativa e escolher uma coisa levezinha dos Sigur Ros. Ou brejeira e encomendar ao Quim Barreiros um requiem especial, com muito acordeão e que metesse palavras alusivas a enterro. Pressuponho que ainda tenho algum tempo para decidir, mas de pressuposições estão os cemitérios cheios. Há sugestões?

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