Tuesday, April 5, 2011

primavera

(Ascensión, Doifel Videla)


Os dois homens abençoaram o ruído da água corrente, que ouviam algures para lá das figueiras à beira do caminho, ao final de uma tarde de Setembro, ainda poeirenta, ainda quente, mas o ar longe do vibrante do Verão, e de luz velada como um rosto sob as primeiras rugas. Subitamente, o caminho cortado por um fio de água, que um velho levava, com gestos de mágica, a percorrer as leiras cultivadas, uns socalcos mais abaixo. Pousando as bicicletas e levando os cantis, subiram com esforço o morro que lhes ficava à direita. Em frente, sob a escassa sombra dos castanheiros, uma represa guardava no seu regaço de terra e rocha a água que escorria da montanha. E, à superfície, dois ombros como duas maçãs e dois braços graciosos brincando danças com os verdes reflectidos. Pendurado num arbusto da margem, um vestido de alças. Ela não podia ter mais de 15 anos. A pele muito lisa, queimada do sol, e o cabelo escuro aloirado junto às têmporas, resultado de um longo verão de férias. Não os vira e levantara-se, torcendo o cabelo entre as mãos, exposta até ao púbis negro, entre as ancas de cetim, o umbigo represa da água que escorria dos seios apenas adivinhados na lisura do tronco. O sol poente fazia brilhar as gotas pousadas nas pestanas, nas sobrancelhas, e ela lambeu deliciada a água dos lábios, arroxeados de frio, voltando a mergulhar até ao pescoço. A sede dos dois homens era agora tão maior, que atiraram, a meia voz, do seu posto de observação _ menina, pode-se beber dessa água?_ surpreendidos que a voz saísse das gargantas em fogo. Ela mostrou-lhes um sorriso regular de branca inocência. E, sem mais, eles mergulharam na represa as mãos em concha.

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