Saturday, January 8, 2011

A minha casa tem duas janelas viradas a sul, com um mar de inverno por dentro que às vezes faz estremecer as vidraças e assusta. Quando o mar se acalma, e fica a sussurrar no rés-do-chão, senta-se às janelas um gato com os olhos rasgados de desejo de rua. Uma janela entreaberta seria o suficiente para o gato saltar e se perder nela.
Na minha casa não há relógios nem calendários. Cada segundo conta para o que não interessa, e é verão à noite, e amanhecem primaveras, e o outono deixa ouro coagulado no soalho, e é inverno no mar. Às vezes planto girassóis estridentes no jardim, outras aparecem, espontâneas, flores lilazes que levo à boca para me alimentar.
A minha casa existe mais quando estou longe. Porque quando estou perto ela é casa, é toca, é ninho, é colo. E eu deixo simplesmente de pensar.

No comments: