Saturday, January 15, 2011

Constelações


Contar estrelas pode fazer crescer cravos nos dedos, bolinhas de carne tão difíceis de arrancar depois, e para além disso, as estrelas fugidias, a gozar comigo: já me contaste, afinal não, agora mudei de sítio, sou uma estrela ou um avião a caminho de um sítio qualquer com gente dentro? Eu: vinte e sete, vinte e oito, vinte e nove. E elas: trinta e dois, cem, quinze, nebulosa. E eu perdida, a examinar os dedos onde não cresciam cravos, apesar de contarem estrelas. Continuo a olhar para elas, hoje que não sou criança, afinal sou, apenas mudei de sítio, não conto estrelas, mas conto sóis que se põem, pendurados nas núvens verdes que se estendem em socalcos até ao rio, e conto beijos que nascem dos teus lábios, espalhados pelo meu corpo, trinta e dois, cem, quinze, nebulosa, constelação. Uma Ursa Maior com a Polar na minha boca. Cravos a crescerem-me por dentro, vermelhos e brancos, não dos de carne, flores que custam tanto a arrancar e te ofereço no colo.

No comments: