Friday, December 7, 2007


Ninguém quebra o silêncio da minha vida por decidir. O telemóvel não toca. Apetece-me atirar o silêncio contra a parede, para o ver escaqueirado. A areia fina escorre inexorável entre os dedos, tal como me avisaste, amigo distante. E eu limito-me a olhar o tempo sem poder detê-lo: não tenho dedos, não tenho mãos. Ainda terei rosto?

Tenho o cérebro desfeito como aquele cadáver amortalhado nos cobertores em que morreu, um tiro no palato, um hematoma da força da coronha sobre o ventre, o crânio em pedaços. Está morto e perdeu o rosto, como todos os mortos.

Terei perdido o meu? Fui procurá-lo ao Parque e encontrei-o, breves pedaços vegetais rasando o chão. Os troncos ondulantes dos plátanos. Os pedaços do meu rosto _ crac!!_ sob os meus pés.

4 comments:

M said...

Um pouco de paciência e tudo regressa aos eixos, Marta.

Unknown said...

Há um mutismo pesado que nos habita, uma melancolia trágica que nos cicia aos ouvidos. Já não sentimos o corpo e os nossos dedos secam vagarosamente, derramando o chão como folhas leves de Outono.

Só há uma forma de matar o silêncio, alvejá-lo com a voz que calamos.

Anonymous said...

puc puc
Basta o bater das teclas para gritar ao silêncio.
Basta uma brisa para penetrar sons,verdades e histórias em mais que um só zero.
Zero é o ponto mais perceptivel e mais distante. É nele que se gera o caos e se acenta o universo.
Como diz Caetano...Sê


Utopicamente.
eu

Anonymous said...

Apetece-me atirar o silêncio à parede só para o ver escaqueirado...dou por mim a ver o tempo fugir-me por entre os dedos sem conseguir detê-lo...hoje sinto-me assim...