Wednesday, November 22, 2006


A religião deixou de fazer parte da minha vida há meses. Deixei de acreditar nos “mensageiros” da suposta palavra de Deus: a igreja começou a parecer-me uma máquina de pura propaganda de ideias meramente humanas: espalhando a necessidade do sofrimento como redenção para os pecados de gente simples, que nunca prejudicou verdadeiramente ninguém. Anunciando uma recompensa pós-mortal a quem na terra suportar resignadamente a cruz que o Deus misericordioso lhes entrega para que possam salvar as suas almas conspurcadas do fogo do inferno. E tudo isto me parece ridículo e até cruel: é como enganar uma criança, prometendo-lhe doces se não sair para a rua. Com a única diferença de que a igreja não está a proteger ninguém de uma ameaça real ou possível, pretende apenas impedir-nos de nos descobrirmos a nós próprios, a nossa própria dimensão humana e imperfeita e complexa, que insistem em confundir com uma personagem chamada Satanás.

Faz-me pena ver essa gente que se arrasta por essas estradas, a caminho de Fátima, para ensanguentar os joelhos numa longa via sacra, que os livrará dos seus problemas por expiação das suas faltas, cometidas nem eles sabem contra quem.

No entanto, nunca pus a existência de Deus em causa: simplesmente, o Deus em que acredito não é o mesmo. O meu Deus vive em mim e em todos os seres e não cobra a ninguém o preço de uma felicidade eterna: ela não se conquista com uma vida de aceitação, mas de luta, não se atinge como compensação do sofrimento, mas como recompensa pelas tentativas de se ter uma vida feliz. O meu Deus não aprecia sacrifícios humanos no Seu altar: prefere ver que os homens que integra souberam ser felizes no mundo maravilhoso que lhes foi dado.

Eu não quero ser católica por tradição: prefiro não ter intermediários e lidar directamente com o meu Deus. É por isso que continuo a falar-Lhe antes de dormir.

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