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Sándor Márai, A mulher certa
Meses e semanas e dias e horas e minutos e segundos de nada. os ponteiros que giram sobre o seu eixo sem saírem do lugar.um pêndulo oscila numa casa suspensa.nada acontece. nada me dói, a não ser o nada. estou em março e de repente é agosto e de repente é natal e de repente é março e eu sempre presa a esse março. Ou foi abril? Ou foi maio?não sei já, nem interessa. Hoje os bandos de pombos não cortam em aresta o vidro de nuvens da mesa do escritório.guardaram o voo, enrolados no eriçado das penas debaixo dos beirais. alguns são ratos em passinhos ridículos à procura de lixo.
Metodicamente corro na vida como um autómato. acordo sem ter dormido, como sem ter fome, só porque tenho que, trabalho sem vontade e sem objectivo. volto à minha casa sem ninguém e recomeço. não. repito…