Saturday, May 14, 2011

Rita

É a última noite e fizeram explodir no ar serenas flores douradas, que agora vejo de longe: atravessei para o outro lado do rio e da vida, já não tenho a capa sobre os ombros, nem os sapatos cheios de pó, nem choro a saudade antecipada de uma história que parece ter sido noutro século e parece ter acontecido noutro planeta. Nada disto perdeu a importância, ou o sentido, mas perdeu o tempo de fazer sentido. Para tudo existe um tempo, e aquele já passou. Vivi-o, assinei-o, recordo-o e guardo-o outra vez na gaveta.

As flores que explodem serenamente no céu nocturno não são tão belas como o teu sorriso, nem tão luminosas como o teu jeito de rainha, nem tão grandes como os teus braços capazes de abraçar o mundo _ o teu coração capaz de conter o mundo (e mais mundos houvesse). E o mundo dentro dos teus olhos tão sem impossíveis.

Nunca te disse (conforme nunca te disse tantas outras coisas) que os olhos da tua mãe me dão vontade de chorar por conterem tanta bondade. E que tens em ti a mesma ternura. Nem te disse que, quando Coimbra acabou, o que mais desejei trazer comigo para esta outra vida foste tu. Segurar-te com força nas mãos para não te perder nunca. E não te perdi, eu sei. Soube-o naquela noite em que fizemos desaparecer toda a gente à nossa volta, e restámos só nós as duas, e falámos de Deus, e chorámos. Sei-o de todas as vezes que ouço a tua voz e sinto que estendes os braços por cima da distância para me abraçar.

Quero dizer-te que também não me perdeste. Que nesta noite, mais do que em qualquer outra, penso em ti. E que a força que tenho é a mesma que tens. E só dá mais encanto aos nossos corações de manteiga. Mas isto já tu sabias.

2 comments:

Anonymous said...

Marta, nada do que diga pode acrescentar algo a tudo o que já escreveste.
Esse dom sempre foi teu, como tantos outros…. Sinto o peito apertado ao ler as tuas lindas palavras, sinto um aperto na garganta… Chama-se SAUDADE!!... E é tão linda e profunda, quanto cruel, porque toca, porque dói e porque me sinto completamente impotente contra um sentimento que me avassala e contra o qual não consigo lutar…
O aperto é também remorso por não ter entendido os braços mais vezes para te poder alcançar... Há sentimentos na vida que não passam. Sei que um deles é a AMIZADE. Mas a verdadeira!... Aquela em que não há muros, barreiras, nem obstáculos… Não há tempo que apague, nem distância que separe…!! E é isso o que sinto por ti, minha linda! Sou coração manteiga, como dizes e sabes, e bem tento ás vezes, mas não sei ser de outra forma, nem o desejo verdadeiramente… Isso seria contrariar a minha própria natureza e não o faço, para o bem e para o mal, porque estaria a desvirtuar quem sou.
Palavras leva-as o vento… Os sentimentos não, se forem verdadeiros!
Invejo-te porque ainda com sentimento de desapego - porque o tempo assim o dita - tenho pena de não ter fugido praí ontem, como se mil forças ainda clamassem por mim...! De não ver os papelinhos no ar, de não te abraçar e não partilhar momentos de algo que sinto é meu e que sempre será – a nossa linda COIMBRA! Mas tudo isso só faz sentido ao lado das pessoas que para nós foram e são Coimbra. Tu és Coimbra para mim!...
Rita

Anonymous said...

Como tu sabes rimar tão bem as palavras. O que escreves sai-te do coração e por isso toca corações.
Estas palavras não sendo para mim fizeram-me chorar!
Porque, como dizes, a amizade sendo verdadeira ultrapassa e transcende tudo!
E que bom que é ter por perto amigos que nos enchem a alma!!
Beijinhos Marta

Célia