Saturday, January 9, 2010

Balada para um louco

Vejo-o quase sempre percorrendo os passeios sujos da rua onde trabalho. Vem sempre com a companhia da garrafa de vinho debaixo do braço, a cabeça de lado, passos cuidadosos para não entornar os olhos a transbordar aguardente.
É baixo, magrinho, tem a pele negra e os olhos húmidos e amarelos como a lua em certas noites. E quando pára descansa sempre a cabeça na mão, a pensar na vida. Provavelmente levou a vida toda a pensar.
Ontem estava ao balcão, quando entrei no café. Esperava pacientemente que lhe trouxessem um fino. E olhou-me tão de cima, com um sorriso cerrado de tanta condescendência, quase pena, que senti de repente que a louca alcoólica era eu.
_ João, chamou-lhe a empregada do café.
Mas João não pode ser o seu nome, fica-lhe grande. Para lhe servir, seria preciso fazer as baínhas. Mas fica assim, um nome emprestado, a facilitar contas. E a nome emprestado não se olha ao tamanho.

1 comment:

João, O Sequeira said...

João é nome de português!
Com certeza o "João" terá uma história para contar daquelas que não cabem num só post, numa só pagina!