Será que ainda me resta tempo contigo,
ou já te levam balas de um qualquer inimigo?
Será que soube dar-te tudo o que querias,
ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias?
Será que fiz tudo que podia fazer,
ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer?
Será que lá longe ainda o céu é azul,
ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul?
Será que a tua pele ainda é macia,
ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia?
Será que ainda te posso valer,
ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer?
Será que é de febre este fogo,
este grito cruel que da lebre faz lobo?
Será que amanhã ainda existe para ti,
ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri?
Será que lá fora os carros passam ainda,
ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda?
Será que a cidade ainda está como dantes
ou cantam fantasmas e bailam gigantes?
Será que o sol se põe do lado do mar,
ou a luz que me agarra é sombra de luar?
Será que as casas cantam e as pedras do chão,
ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão?
Será que sabes que hoje é Domingo,
ou os dias não passam, são anjos caindo?
Será que me consegues ouvir
ou é tempo que pedes quando tentas sorrir?
Será que sabes que te trago na voz,que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós?Será que te lembras da cor do olhar
quando juntos a noite não quer acabar?
Será que sentes esta mão que te agarra
que te prende com a força do mar contra a barra?
Será que consegues ouvir-me dizer
que te amo tanto quanto noutro dia qualquer?
Eu sei que tu estarás sempre por mimNão há noite sem dia, nem dia sem fim.Eu sei que me queres, e me amas também
me desejas agora como nunca ninguém.
Não partas então,
não me deixes sozinhoVou beijar o teu chão e chorar o caminho.
Será,
Será,
Será?
Pedro Abrunhosa